A poda é, sem dúvida, uma das intervenções humanas mais decisivas e complexas na condução de um pomar de castanheiros. Longe de ser uma mera operação de corte de ramos, a poda é uma arte e uma ciência que, quando bem executada, permite moldar o crescimento da árvore, equilibrar a sua produção, melhorar a qualidade dos frutos e prolongar a sua vida produtiva. Através de cortes criteriosos, o produtor pode otimizar a interceção da luz solar, melhorar o arejamento da copa, facilitar as operações culturais e manter a árvore num estado sanitário ótimo. Cada corte deve ter um propósito claro, baseado no conhecimento da fisiologia do castanheiro e nos objetivos específicos para cada fase da vida da árvore, desde a sua juventude até à maturidade plena.
A importância da poda reside na sua capacidade de direcionar a energia da árvore para os fins desejados. Uma árvore não podada tende a seguir o seu padrão de crescimento natural, o que em contexto de pomar pode resultar em copas demasiado densas, com muita madeira improdutiva e uma produção concentrada na periferia. A poda permite contrariar esta tendência, removendo o supérfluo e estimulando a renovação dos órgãos produtivos. É uma ferramenta essencial para gerir a relação entre o crescimento vegetativo (produção de madeira e folhas) e o crescimento reprodutivo (produção de flores e frutos), um equilíbrio fundamental para obter colheitas regulares e sustentadas ao longo dos anos.
Existem diferentes tipos de poda, cada um com objetivos específicos e aplicado em momentos distintos da vida da árvore. A poda de formação, realizada nos primeiros anos, é crucial para construir uma estrutura sólida e bem-formada. A poda de frutificação ou de manutenção, aplicada anualmente em árvores adultas, visa conservar essa estrutura e regular a produção. Finalmente, a poda de rejuvenescimento pode ser necessária em árvores mais velhas ou abandonadas para restaurar o seu vigor e a sua capacidade produtiva. O sucesso de qualquer tipo de poda depende da sua execução correta, no momento certo e com as ferramentas adequadas.
É fundamental desmistificar a ideia de que a poda é prejudicial para a árvore. Pelo contrário, uma poda racional e bem fundamentada é um ato que promove a saúde e a longevidade do castanheiro em cultivo. No entanto, é igualmente verdade que uma poda mal feita, excessiva ou realizada em épocas desadequadas, pode causar danos severos, abrir portas a doenças e comprometer a produção por vários anos. O conhecimento, a observação e a prudência são, por isso, os melhores aliados de quem empunha a tesoura de poda.
Objetivos e princípios fundamentais da poda
Os objetivos da poda do castanheiro são múltiplos e interligados, mas podem ser resumidos em quatro grandes áreas. O primeiro objetivo é formar a árvore, criando uma estrutura de ramos mestres forte, equilibrada e com uma altura de tronco adequada que facilite as operações no pomar, como a passagem de máquinas e a colheita. O segundo objetivo é regular a produção, procurando um equilíbrio entre o número de frutos e a capacidade da árvore para os alimentar, de modo a obter colheitas anuais consistentes e de bom calibre, evitando o fenómeno da alternância (anos de muita produção seguidos de anos de pouca produção).
O terceiro grande objetivo é melhorar a qualidade dos frutos. Ao otimizar a distribuição da luz e do ar no interior da copa, a poda garante que os frutos em desenvolvimento recebem a energia solar necessária para a fotossíntese e os nutrientes para um bom enchimento, resultando em castanhas maiores, mais doces e de melhor qualidade. Uma copa bem arejada é também menos suscetível a doenças fúngicas. O quarto objetivo é manter a saúde e a longevidade da árvore, através da remoção regular de madeira morta, doente ou danificada, que constitui uma fonte de inóculo para patógenos e uma porta de entrada para pragas.
Para atingir estes objetivos, a poda deve seguir alguns princípios fundamentais. O princípio do respeito pela dominância apical dita que o gomo terminal de um ramo tende a crescer mais vigorosamente do que os gomos laterais; a poda pode ser usada para quebrar ou reforçar esta dominância, orientando o crescimento. Outro princípio é que a intensidade da resposta da árvore (o número e o vigor dos novos rebentos) é proporcional à severidade do corte: cortes drásticos originam respostas muito vigorosas e vegetativas. Por isso, a poda deve ser, regra geral, moderada e distribuída por toda a copa.
Finalmente, é crucial compreender que a poda é uma operação que causa feridas na árvore. Por isso, os cortes devem ser sempre limpos, feitos com ferramentas afiadas e desinfetadas, e realizados de forma a promover uma rápida cicatrização. O corte deve ser feito junto ao anel de cicatrização na base do ramo a remover, sem deixar um toco, mas também sem danificar o tecido do tronco ou do ramo principal. A aplicação de um mastic cicatrizante em cortes de maior diâmetro pode ajudar a proteger a ferida da desidratação e da entrada de fungos.
A poda de formação em árvores jovens
A poda de formação é realizada durante os primeiros 3 a 5 anos após a plantação e é o investimento mais importante no futuro da árvore. O seu objetivo é construir o “esqueleto” ou a estrutura permanente da copa, que irá suportar toda a produção futura. Uma má formação nesta fase é muito difícil de corrigir mais tarde e pode comprometer a longevidade e a produtividade da árvore. A escolha do sistema de condução (a forma que se pretende dar à árvore) deve ser feita antes de iniciar a poda, sendo o “vaso” e o “eixo central” os sistemas mais comuns para o castanheiro.
No sistema de condução em vaso, o objetivo é criar uma copa aberta, sem um líder central, formada por 3 a 4 ramos principais (pernas) que partem do tronco a uma determinada altura e se abrem para o exterior. Após a plantação, a vara é geralmente despontada a uma altura de 80 a 120 cm do solo. Na primavera seguinte, dos rebentos que surgem, selecionam-se 3 ou 4 com boa distribuição espacial e um bom ângulo de inserção, eliminando-se todos os outros. Nos anos seguintes, estes ramos principais são podados para promover a sua ramificação e formar a estrutura secundária da copa. Este sistema favorece uma excelente penetração da luz.
No sistema de condução em eixo central, mantém-se um líder ou eixo vertical, a partir do qual saem, em espiral, os ramos estruturais. Este sistema resulta em árvores com uma forma mais cónica ou piramidal. A poda consiste em manter a dominância do eixo central, despontando-o anualmente para promover a emissão de ramos laterais, e em selecionar esses ramos, garantindo que os mais baixos sejam sempre mais compridos que os superiores, para não sombrearem os de baixo. Este sistema pode permitir uma entrada em produção ligeiramente mais precoce.
Independentemente do sistema escolhido, durante a fase de formação é fundamental eliminar os ramos ladrões (rebentos muito vigorosos que crescem na vertical), os ramos que crescem para o interior da copa e os que têm ângulos de inserção muito fechados, que são mais frágeis. A poda deve ser moderada, removendo apenas o estritamente necessário para guiar a forma da árvore, pois uma poda excessiva nesta fase pode atrasar a sua entrada em produção.
A poda de manutenção e frutificação em árvores adultas
Uma vez que a árvore atingiu a sua estrutura definitiva e entrou em plena produção, a poda passa a ser de manutenção, realizada anualmente durante o repouso vegetativo, no inverno. O principal objetivo desta poda é manter a forma da árvore, controlar a sua dimensão e, sobretudo, assegurar um equilíbrio constante entre o crescimento vegetativo e a produção de frutos. O castanheiro frutifica principalmente na madeira do ano, ou seja, nos rebentos que cresceram na primavera anterior. A poda de frutificação visa, por isso, estimular a renovação contínua destes ramos produtivos.
A operação começa com uma poda de limpeza, que consiste na remoção de toda a madeira morta, seca, partida ou doente. Esta é uma medida profilática essencial para a sanidade do pomar. De seguida, observam-se os ramos que se cruzam ou que crescem para o interior da copa, sombreando-a, e eliminam-se os que estão em pior posição. O objetivo é manter a copa arejada e bem iluminada, o que, como vimos, é crucial para a qualidade dos frutos e para a prevenção de doenças.
A parte mais técnica da poda de frutificação consiste no desbaste e encurtamento dos ramos produtivos. Os ramos que já produziram no ano anterior são encurtados, deixando apenas algumas gemas na sua base, para estimular a emissão de novos rebentos que irão frutificar na próxima estação. Ramos demasiado compridos e pendentes podem ser encurtados para evitar que partam com o peso dos frutos. Procura-se, no fundo, manter a produção perto dos ramos estruturais, evitando que a copa se “descasque” por dentro e que a produção se desloque para as extremidades.
A intensidade da poda de manutenção deve ser adaptada ao vigor da árvore e à produção do ano anterior. Em árvores muito vigorosas e com pouca produção, a poda deve ser mais ligeira para não estimular ainda mais o crescimento vegetativo. Pelo contrário, em árvores mais fracas e que produziram excessivamente, uma poda um pouco mais severa pode ajudar a reequilibrar a árvore, reduzindo o número de gomos florais e promovendo algum crescimento vegetativo. É um ajuste fino que requer experiência e observação.
Poda de rejuvenescimento e sanitária
A poda de rejuvenescimento, também conhecida como poda drástica, é uma intervenção excecional que se aplica a castanheiros velhos, pouco produtivos, ou que foram abandonados e têm uma estrutura de copa caótica e cheia de madeira seca. O objetivo é renovar completamente a copa da árvore, estimulando o crescimento de novos ramos a partir da estrutura principal ou mesmo do tronco. É uma operação de alto stress para a árvore e que deve ser realizada com critério, pois implica a perda de produção durante alguns anos, até que a nova copa se forme.
Esta poda consiste no corte de grande parte dos ramos principais da árvore, deixando apenas a estrutura primária ou, em casos extremos, cortando o tronco a uma certa altura. Os cortes são de grande diâmetro e devem ser feitos de forma limpa e ligeiramente inclinada para evitar a acumulação de água. É fundamental proteger estas grandes feridas com um bom mastic cicatrizante para prevenir a entrada de fungos que podem causar a podridão da madeira. A melhor época para realizar esta poda é no final do inverno, pouco antes do início da atividade da árvore.
Após a poda drástica, a árvore irá responder com a emissão de um grande número de rebentos vigorosos a partir das gemas adormecidas localizadas sob a casca. Durante os anos seguintes, será necessário realizar um trabalho de seleção destes rebentos, semelhante a uma nova poda de formação, para escolher os mais bem posicionados que irão constituir a nova copa da árvore. É um processo que exige paciência, mas que pode devolver a vitalidade e a capacidade produtiva a árvores que de outra forma estariam condenadas.
A poda sanitária é um tipo específico de poda que pode ser realizada em qualquer altura do ano (exceto em períodos de geada) e que tem como único objetivo a remoção de partes da árvore que apresentem sintomas de doenças graves, como o cancro do castanheiro. Nestes casos, o ramo afetado deve ser cortado bem abaixo da zona visível da doença, garantindo que se remove todo o tecido infetado. As ferramentas devem ser rigorosamente desinfetadas após cada corte (com álcool ou lixívia diluída) para não propagar a doença. O material vegetal removido deve ser imediatamente queimado.
Ferramentas, técnicas de corte e época ideal
A utilização de ferramentas de qualidade, bem mantidas e adequadas a cada tipo de corte, é essencial para uma poda eficaz e segura, tanto para o podador como para a árvore. A ferramenta básica é a tesoura de poda de uma mão, utilizada para cortar ramos de pequeno diâmetro (até 2-2,5 cm). Para ramos de maior diâmetro (até 4-5 cm), deve ser usado um tesourão de duas mãos, que permite aplicar mais força e fazer um corte mais limpo. Para ramos ainda mais grossos, o serrote de poda é a ferramenta de eleição. A utilização de motosserras deve ser reservada para cortes de grande diâmetro em podas de rejuvenescimento.
Todas as ferramentas de corte devem estar sempre perfeitamente afiadas. Uma lâmina mal afiada não corta, mas esmaga as fibras da madeira, criando uma ferida irregular que cicatriza com dificuldade e é mais suscetível a infeções. A limpeza e desinfeção das ferramentas é igualmente crucial. Após cada dia de trabalho, devem ser limpas e lubrificadas. Durante a poda, especialmente se houver suspeita de doenças como o cancro, as lâminas devem ser desinfetadas ao passar de uma árvore para outra, para evitar a transmissão de patógenos.
A técnica de corte é fundamental para garantir uma boa cicatrização. Ao remover um ramo inteiro, o corte deve ser feito junto à sua base, seguindo a linha do “colar” do ramo, uma zona ligeiramente inchada onde se concentram os tecidos com maior capacidade de cicatrização. Não se deve cortar rente ao tronco (corte embutido), pois cria uma ferida muito maior, nem deixar um toco, que apodrecerá e dificultará o fecho da ferida. Ao encurtar um ramo, o corte deve ser feito a cerca de meio centímetro de uma gema orientada para o exterior da copa, com uma ligeira inclinação (bisel) no sentido oposto à gema para que a água da chuva não escorra sobre ela.
A época ideal para a maioria das podas no castanheiro (formação, manutenção, rejuvenescimento) é durante o período de repouso vegetativo, entre a queda das folhas no outono e o início do abrolhamento na primavera, ou seja, no inverno. Durante esta fase, a árvore está em dormência, a circulação de seiva é mínima, as reservas estão acumuladas nos tecidos lenhosos e o risco de infeção por certas doenças é menor. Devem ser evitados os dias de geada forte, pois a madeira congelada é mais frágil e os cortes podem não ser limpos. A poda em verde, mais ligeira, realiza-se no verão e destina-se principalmente à remoção de rebentos ladrões.