A poda é uma das intervenções mais impactantes que se pode realizar numa árvore, e no caso da paulownia tomentosa, de crescimento rápido, assume uma importância particular. Longe de ser apenas um corte estético, a poda estratégica influencia a estrutura, a saúde, a segurança e até o propósito ornamental da árvore. Desde a formação de um tronco reto para a produção de madeira até ao corte radical para a criação de um espetáculo de folhagem tropical, as técnicas de poda permitem moldar a paulownia para ir ao encontro de objetivos específicos. Compreender o porquê, o quando e o como podar esta árvore dinâmica é fundamental para aproveitar o seu potencial e garantir que se torna um elemento valioso, e não um problema, na paisagem.
A razão fundamental para podar a paulownia é dirigir o seu crescimento. A sua tendência natural é crescer rapidamente, mas nem sempre da forma mais estruturalmente sólida ou esteticamente agradável. Sem intervenção, pode desenvolver múltiplos troncos, ramos com ângulos de inserção fracos ou uma copa densa e desequilibrada. A poda formativa nos primeiros anos de vida é, portanto, crucial para estabelecer um esqueleto forte, com um líder central dominante e ramos bem espaçados, que servirão de base para uma árvore madura, segura e bonita.
A saúde da árvore é outra razão primordial para a poda. A remoção de ramos mortos, doentes ou danificados é uma prática de higiene essencial. Esta madeira comprometida pode albergar doenças e pragas, que se podem espalhar para partes saudáveis da árvore. Além disso, a remoção de ramos que se cruzam e roçam uns nos outros previne a criação de feridas que podem servir como pontos de entrada para patógenos. A poda para desbastar uma copa demasiado densa também melhora a circulação de ar e a penetração da luz solar, reduzindo a humidade e criando um ambiente menos favorável ao desenvolvimento de doenças fúngicas.
A segurança é uma consideração importante, especialmente para árvores plantadas perto de edifícios, áreas de passagem ou linhas elétricas. A poda pode ser utilizada para remover ramos baixos que obstruem a passagem, para reduzir o peso de ramos demasiado longos e pesados, ou para eliminar ramos que representam um risco de queda. Em árvores maduras, a avaliação e a poda por um arborista certificado são recomendadas para garantir que o trabalho é feito de forma segura e correta, mantendo a integridade estrutural da árvore.
Finalmente, a poda pode ser utilizada para fins puramente ornamentais, para controlar o tamanho da árvore ou para realçar características específicas. A técnica de corte radical (coppicing), por exemplo, transforma completamente a aparência da árvore, sacrificando as flores em troca de folhas gigantescas e um hábito arbustivo. Esta versatilidade faz da poda uma ferramenta poderosa nas mãos do jardineiro informado, permitindo uma gestão ativa da forma e da função da paulownia na paisagem.
Poda de formação em árvores jovens
A poda de formação é mais eficaz quando realizada durante os primeiros três a cinco anos de vida da árvore, pois é nesta fase que se estabelece a sua estrutura fundamental. O objetivo principal é desenvolver um único tronco reto e forte (o líder central) e um conjunto de ramos principais (o esqueleto) bem distribuídos vertical e radialmente ao redor do tronco. Esta estrutura forte será capaz de suportar o peso da copa madura e resistir melhor a ventos fortes e cargas de neve.
No primeiro ou segundo ano após a plantação, o foco está em estabelecer o líder central. Se a jovem árvore desenvolver vários caules concorrentes a partir da base, deve-se selecionar o mais forte e reto para ser o líder e remover os outros. Ao longo do tronco principal, quaisquer ramos laterais que compitam com o líder em vigor ou que tenham ângulos de inserção muito apertados (em forma de V) devem ser removidos. Ângulos de inserção fracos são propensos a partir-se à medida que o ramo engrossa.
À medida que a árvore cresce em altura, continua-se a selecionar os ramos do esqueleto. Estes devem ser ramos que crescem para fora do tronco com um bom ângulo (mais próximo de um L do que de um V) e que estão bem espaçados. Idealmente, os ramos principais não devem estar diretamente uns sobre os outros no tronco, mas sim distribuídos em espiral para um equilíbrio ótimo. Os ramos temporários na parte inferior do tronco podem ser mantidos enquanto são pequenos, pois ajudam a alimentar o crescimento e a engrossar o tronco, mas devem ser gradualmente removidos à medida que a copa se eleva.
A melhor altura para realizar a poda de formação é no final do inverno ou início da primavera, quando a árvore está dormente. Podar nesta altura minimiza o stress e permite que as feridas comecem a cicatrizar rapidamente com o início do crescimento primaveril. É crucial usar ferramentas afiadas para fazer cortes limpos e precisos. Os cortes devem ser feitos logo do lado de fora do colar do ramo (a área inchada onde o ramo se junta ao tronco), sem danificar o colar e sem deixar um toco.
Poda de manutenção em árvores maduras
Uma vez que a paulownia tenha uma boa estrutura estabelecida, a necessidade de poda diminui e o foco muda para a manutenção. A poda de manutenção pode ser realizada a qualquer altura do ano e concentra-se principalmente na remoção das “três D’s”: ramos mortos (dead), doentes (diseased) ou danificados (damaged). A remoção imediata desta madeira assim que é detetada é a prática de manutenção mais importante para a saúde e segurança a longo prazo da árvore.
O desbaste da copa é outra tarefa de manutenção que pode ser benéfica. Se a copa se tornar excessivamente densa, pode ser útil remover seletivamente alguns ramos interiores para melhorar a penetração da luz e a circulação de ar. Isto pode ajudar a reduzir a incidência de doenças e a promover um crescimento mais saudável em toda a copa. Ao desbastar, removem-se ramos inteiros no seu ponto de origem, em vez de simplesmente encurtá-los, o que mantém a forma natural da árvore.
O levantamento da copa pode ser necessário se os ramos inferiores começarem a interferir com a passagem de pessoas, veículos ou com a manutenção do relvado. Isto envolve a remoção sistemática dos ramos mais baixos para criar um espaço livre sob a árvore. É importante fazer isto gradualmente ao longo de vários anos, em vez de remover muitos ramos grandes de uma só vez, o que pode stressar a árvore.
Para árvores maduras de grande porte, especialmente as que se encontram em áreas de risco, a poda deve ser realizada por um arborista profissional certificado. Eles têm o conhecimento, o equipamento e a experiência para avaliar a estrutura da árvore, identificar potenciais perigos e realizar os cortes de forma segura e correta. Tentar podar ramos grandes sem o treino adequado é extremamente perigoso e pode causar danos graves tanto à árvore como ao podador.
A técnica de corte radical (coppicing)
O corte radical, ou “coppicing” em inglês, é uma técnica de poda drástica mas muito eficaz para quem deseja cultivar a paulownia pela sua folhagem espetacular em vez das suas flores. Esta técnica explora a capacidade da árvore de rebentar vigorosamente a partir da base após ser cortada. O resultado são múltiplos caules de crescimento extremamente rápido que produzem folhas enormes, com um diâmetro que pode exceder os 60 centímetros, criando um efeito tropical e arrojado no jardim.
Para realizar o corte radical, a árvore é cortada até uma altura de 5 a 10 centímetros acima do nível do solo. A melhor altura para o fazer é no final do inverno ou início da primavera, imediatamente antes do início do novo crescimento. Este timing permite que toda a energia armazenada no sistema radicular seja direcionada para a produção de novos rebentos assim que o tempo aquece. Usar uma serra de poda afiada é essencial para fazer um corte limpo.
Na primavera, vários rebentos surgirão do cepo restante. Pode-se optar por deixar todos eles crescerem para criar um arbusto denso e com múltiplos caules. Alternativamente, pode-se selecionar os três a cinco rebentos mais fortes e bem posicionados e remover os restantes. Esta seleção concentra a energia da planta nos rebentos escolhidos, resultando em caules ainda mais altos e vigorosos, com folhas potencialmente ainda maiores.
É importante lembrar que esta técnica sacrifica completamente a floração, uma vez que as flores da paulownia se formam na madeira do ano anterior, que é removida durante o corte. As plantas tratadas desta forma também requerem um fornecimento generoso de água e nutrientes durante a estação de crescimento para suportar a sua taxa de desenvolvimento fenomenal. O processo é repetido anualmente, cortando o crescimento do ano anterior no final de cada inverno.
Ferramentas e técnicas de corte corretas
A utilização das ferramentas certas e a aplicação de técnicas de corte adequadas são essenciais para uma poda eficaz e para a saúde da árvore. Para ramos pequenos, com até 2 centímetros de diâmetro, uma tesoura de poda de bypass é a ferramenta ideal. Para ramos maiores, até cerca de 5 centímetros, um podador de cabo longo (lopper) fornece a alavancagem necessária. Para ramos ainda maiores, é necessária uma serra de poda. Todas as ferramentas devem ser mantidas afiadas, para garantir cortes limpos, e limpas com álcool ou outro desinfetante entre árvores, para evitar a propagação de doenças.
Ao remover um ramo grande, é crucial usar o método de três cortes para evitar que o peso do ramo rasgue uma tira de casca do tronco. O primeiro corte é um corte inferior, feito a cerca de 30 centímetros do tronco, que vai cerca de um terço do caminho através do ramo. O segundo corte é feito a partir do topo, um pouco mais longe do tronco do que o primeiro corte, e continua até o ramo se partir. O peso do ramo fará com que ele se quebre limpiamente entre os dois cortes. Finalmente, o terceiro corte remove o toco restante, fazendo um corte preciso logo do lado de fora do colar do ramo.
Nunca se deve fazer um corte “à face”, ou seja, um corte que danifica o colar do ramo. O colar é uma área de tecido especializado na base do ramo que contém as células responsáveis pela cicatrização da ferida. A remoção ou dano a esta área impede a capacidade da árvore de compartimentar e selar a ferida, deixando-a vulnerável à decomposição e infeção. Da mesma forma, deixar um toco demasiado longo também é prejudicial, pois o toco morrerá e apodrecerá.
Finalmente, a aplicação de selantes ou tintas de poda nas feridas de corte é uma prática desatualizada e que agora se sabe ser, na sua maioria, contraproducente. As árvores têm os seus próprios mecanismos de defesa para selar feridas. A aplicação de selantes pode reter a humidade, inibir a formação de calo e criar um ambiente favorável ao crescimento de fungos. A melhor prática é simplesmente fazer um corte limpo e correto e permitir que a árvore se cure naturalmente.