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Plantação e propagação do abrunheiro

Linden · 16.05.2025.

O abrunheiro, com o seu porte selvagem e floração espetacular, é uma adição valiosa a qualquer jardim que procure aliar a beleza natural à funcionalidade. Seja para criar uma sebe defensiva, para atrair vida selvagem ou para colher os seus frutos únicos, o sucesso do seu cultivo começa com uma plantação correta e a compreensão das suas formas de propagação. Este processo, embora simples, requer atenção a alguns detalhes cruciais que irão determinar a saúde e o vigor da planta a longo prazo. Dominar as técnicas de plantação e propagação permitir-te-á não só estabelecer novos exemplares no teu espaço, mas também partilhar esta planta rústica e generosa com outros entusiastas da jardinagem.

A preparação do solo

Um dos passos mais determinantes para o sucesso da plantação do abrunheiro é, sem dúvida, a preparação cuidadosa do solo. Embora seja uma planta conhecida pela sua adaptabilidade, um bom arranque faz toda a diferença no seu desenvolvimento futuro. Antes de mais, é fundamental escolher um local que cumpra os requisitos da planta, nomeadamente uma boa exposição solar. Uma vez definido o local, o passo seguinte é trabalhar o solo em profundidade, numa área consideravelmente maior do que a cova de plantação. Este procedimento visa descompactar a terra, o que facilitará a penetração e o crescimento das raízes.

A análise da composição e da drenagem do solo é outro aspeto crucial. O abrunheiro prefere solos bem drenados e não tolera o encharcamento, que pode levar ao apodrecimento das raízes. Se o teu solo for pesado e argiloso, é altamente recomendável melhorá-lo, incorporando matéria orgânica, como composto bem curtido ou estrume, e areia grossa. Esta adição não só melhora a drenagem, como também aumenta a aeração e enriquece o solo com nutrientes essenciais. Um solo bem estruturado permite que as raízes se expandam livremente em busca de água e nutrientes.

O pH do solo, embora o abrunheiro seja tolerante, deve ser verificado. A planta prospera numa gama de pH que vai de ligeiramente ácido a alcalino, mas um pH extremamente ácido pode ser corrigido com a adição de calcário. A incorporação de matéria orgânica, para além de melhorar a estrutura, também ajuda a equilibrar o pH do solo, tornando-o mais favorável para a maioria das plantas. Esta preparação deve ser feita com algumas semanas de antecedência, para que o solo possa “assentar” antes da plantação.

Finalmente, é importante limpar completamente a área de plantação de todas as ervas daninhas, especialmente as perenes com raízes profundas. As ervas daninhas competem diretamente com a jovem planta de abrunheiro por água, nutrientes e luz, podendo atrasar significativamente o seu desenvolvimento inicial. A remoção manual ou a cobertura do solo com cartão durante algumas semanas antes da plantação são métodos eficazes e ecológicos para garantir que o teu novo abrunheiro tem o melhor começo possível, sem concorrência indesejada.

O processo de plantação

A época ideal para plantar o abrunheiro é durante o período de dormência da planta, que decorre desde o outono, após a queda das folhas, até ao final do inverno, antes do início da brotação. Plantar no outono tem a vantagem de permitir que a planta comece a desenvolver o seu sistema radicular durante o inverno, aproveitando a humidade do solo, o que lhe confere um avanço para o crescimento na primavera seguinte. No entanto, a plantação no final do inverno também é perfeitamente viável, desde que o solo não esteja gelado ou encharcado.

A cova de plantação deve ser significativamente maior do que o torrão da planta, idealmente com o dobro da largura e da profundidade. Esta dimensão extra garante que as raízes encontrarão terra solta à sua volta, facilitando a sua expansão. Ao escavar a cova, é uma boa prática separar a camada superficial do solo (mais rica em matéria orgânica) da camada mais profunda. A terra retirada pode ser misturada com composto ou estrume bem curtido para enriquecer o substrato que será usado para encher a cova.

Antes de colocar a planta na cova, é importante hidratar bem o torrão, mergulhando-o num balde com água até que parem de sair bolhas de ar. Se a planta tiver as raízes “enroladas” no vaso, deves soltá-las gentilmente com as mãos para estimular o seu crescimento para fora. A planta deve ser posicionada no centro da cova, garantindo que a parte superior do torrão (o colo da planta) fique ao mesmo nível da superfície do solo circundante. Plantar demasiado fundo pode causar problemas de apodrecimento do colo.

Depois de posicionar a planta, preenche a cova com a mistura de terra e composto, calcando ligeiramente à medida que vais enchendo para eliminar bolsas de ar. Após o preenchimento, forma uma pequena “bacia” ou “caldeira” de terra à volta da planta, que ajudará a reter a água da rega, direcionando-a para a zona das raízes. A primeira rega após a plantação deve ser abundante e generosa, para garantir que o solo assenta bem à volta das raízes e que a planta fica bem hidratada.

Propagação por semente

A propagação do abrunheiro através de sementes é um método natural e gratificante, embora exija paciência, pois a germinação pode ser lenta e irregular. O primeiro passo é a recolha dos frutos bem maduros no outono. Após a colheita, é necessário remover toda a polpa para libertar o caroço, que contém a semente. A polpa pode conter inibidores de germinação, pelo que é fundamental limpar bem os caroços antes de proceder à sementeira.

As sementes do abrunheiro necessitam de um período de estratificação a frio para quebrar a sua dormência e induzir a germinação. Este processo simula as condições de inverno que as sementes encontrariam na natureza. Para estratificar, mistura as sementes limpas com um substrato húmido, como areia, vermiculite ou turfa, e coloca a mistura num saco de plástico selado. Este saco deve ser guardado no frigorífico (não no congelador) durante um período de dois a três meses. É importante verificar periodicamente a humidade do substrato.

Após o período de estratificação, as sementes estão prontas para serem semeadas. Podes semeá-las em tabuleiros de alvéolos ou em vasos individuais, utilizando um substrato de boa qualidade para sementeira. Enterra cada semente a uma profundidade de cerca de um a dois centímetros e rega suavemente. Coloca os recipientes num local abrigado e luminoso, como uma estufa fria ou uma varanda protegida, mantendo o substrato sempre ligeiramente húmido.

A germinação pode demorar várias semanas ou mesmo meses, e por vezes pode não ocorrer até à primavera seguinte. Quando as plântulas tiverem desenvolvido alguns pares de folhas verdadeiras e tiverem um tamanho manuseável, podem ser transplantadas para vasos maiores. É aconselhável que as jovens plantas passem o seu primeiro ano de vida em vaso, para que possam desenvolver um sistema radicular robusto antes de serem plantadas no seu local definitivo no jardim, o que deverá ocorrer no outono ou inverno seguinte.

Propagação vegetativa

A propagação vegetativa é uma forma eficaz e mais rápida de obter novas plantas de abrunheiro que são geneticamente idênticas à planta-mãe. Um dos métodos mais comuns é a utilização de estacas. As estacas podem ser semi-lenhificadas, colhidas no verão (julho/agosto), ou lenhificadas, colhidas no final do outono ou inverno, a partir de ramos saudáveis e vigorosos do ano. As estacas devem ter cerca de 15 a 20 centímetros de comprimento e um nó (gema) na base.

Para preparar as estacas, remove as folhas da metade inferior e faz um corte em bisel na base. Podes mergulhar a base da estaca numa hormona de enraizamento para aumentar a taxa de sucesso, embora não seja estritamente necessário. As estacas devem ser inseridas num substrato leve e bem drenado, como uma mistura de areia e turfa, em vasos ou tabuleiros. Cobre os recipientes com um saco de plástico transparente ou coloca-os numa mini-estufa para manter uma humidade elevada à volta das estacas, o que previne a sua desidratação.

Outro método de propagação vegetativa muito eficaz no abrunheiro é a divisão dos rebentos que surgem da base da planta. O abrunheiro tem uma tendência natural para emitir rebentos a partir das suas raízes, formando novas plantas à volta da planta-mãe. No inverno, durante o período de dormência, podes escavar cuidadosamente à volta destes rebentos, separando-os da planta principal com uma pá afiada, garantindo que cada novo rebento tem uma porção de raízes.

Estes rebentos com raízes podem ser plantados diretamente no seu local definitivo ou em vasos para um desenvolvimento inicial mais controlado. Este método é particularmente simples e tem uma taxa de sucesso muito elevada, pois as novas plantas já possuem um sistema radicular formado. A alporquia, que consiste em induzir o enraizamento num ramo ainda ligado à planta-mãe, é outra técnica possível, embora menos comum para esta espécie.

Cuidados pós-plantação

Os cuidados nos primeiros meses e anos após a plantação são cruciais para o estabelecimento bem-sucedido do abrunheiro. A rega é, talvez, o fator mais importante. Durante o primeiro ano, especialmente nos meses mais quentes e secos, é fundamental garantir que a planta recebe água suficiente para desenvolver um sistema radicular profundo. O solo deve ser mantido húmido, mas não encharcado, verificando a necessidade de água regularmente e regando em profundidade quando necessário.

A aplicação de uma camada de mulching (cobertura morta) à volta da base da planta é altamente benéfica. Esta camada, com cerca de 5 a 7 centímetros de espessura, ajuda a conservar a humidade do solo, reduz a competição com ervas daninhas e protege as raízes das temperaturas extremas. À medida que a matéria orgânica se decompõe, também enriquece o solo. É importante deixar um pequeno espaço livre à volta do tronco para evitar problemas de apodrecimento.

O controlo de ervas daninhas na área circundante à jovem planta é essencial. A competição por recursos pode abrandar o crescimento do abrunheiro, pelo que a zona da caldeira deve ser mantida limpa. A remoção manual das ervas daninhas é o método preferível. Adicionalmente, deves proteger a jovem planta de possíveis danos causados por animais, como coelhos, que podem roer a casca tenra. A instalação de um protetor de tronco pode ser uma medida de precaução sensata.

Nos primeiros anos, uma poda de formação ligeira pode ser necessária para ajudar a estabelecer uma estrutura forte e bem ramificada. Esta poda deve limitar-se a remover ramos mal posicionados, cruzados ou demasiado fracos. Evita podas severas nos primeiros anos, pois a planta precisa de toda a sua folhagem para realizar a fotossíntese e acumular a energia necessária para um crescimento vigoroso e um bom estabelecimento no seu novo lar.

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