Para que o castanheiro possa crescer de forma vigorosa, manter-se saudável e produzir colheitas generosas e de alta qualidade, é indispensável que disponha de todos os nutrientes minerais de que necessita, nas quantidades e proporções corretas. Uma nutrição adequada é a base da sanidade e da produtividade da árvore, influenciando tudo desde o desenvolvimento do sistema radicular até à formação dos frutos. A fertilidade do solo raramente é suficiente para suprir as exigências de um pomar produtivo ao longo dos anos, tornando a fertilização uma prática de maneio essencial. No entanto, a adubação deve ser realizada de forma racional e criteriosa, baseada num diagnóstico preciso das necessidades, para ser eficaz, economicamente viável e ambientalmente sustentável.
A gestão da nutrição do castanheiro deve começar com uma compreensão profunda do papel que cada nutriente desempenha no metabolismo da planta. Os nutrientes são geralmente classificados em macronutrientes, necessários em maiores quantidades, como o azoto, o fósforo, o potássio, o cálcio, o magnésio e o enxofre, e micronutrientes, necessários em pequenas quantidades, mas igualmente essenciais, como o ferro, o manganês, o boro, o zinco e o cobre. Um desequilíbrio, seja por carência ou por excesso de qualquer um destes elementos, pode causar distúrbios fisiológicos, reduzir o crescimento e afetar a produção.
O ponto de partida para qualquer programa de fertilização deve ser sempre a análise do solo. Esta análise fornece informações valiosas sobre o stock de nutrientes disponíveis, o pH e o teor de matéria orgânica, permitindo uma adubação de correção inicial e o planeamento da manutenção da fertilidade. Contudo, a disponibilidade de nutrientes no solo não significa necessariamente que a planta os esteja a absorver de forma eficiente. Por isso, em pomares em produção, a análise de solo deve ser complementada pela análise foliar, que reflete o verdadeiro estado nutricional da árvore e é a ferramenta de diagnóstico mais precisa para ajustar a fertilização.
A aplicação de fertilizantes deve ser encarada não como uma receita fixa, mas como um processo dinâmico que se ajusta anualmente com base nos resultados das análises, na produção do ano anterior e no vigor observado nas árvores. A escolha entre fertilizantes orgânicos e minerais, ou uma combinação de ambos, dependerá do sistema de produção (convencional, produção integrada ou biológico) e dos objetivos do agricultor. A utilização regular de matéria orgânica é sempre recomendada, pois, além de fornecer nutrientes, melhora de forma duradoura as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, criando um ambiente mais favorável ao desenvolvimento do castanheiro.
Macronutrientes essenciais
Os macronutrientes são os elementos que a planta necessita em maiores quantidades, sendo os pilares da sua nutrição. O azoto (N) é, talvez, o mais importante para o crescimento vegetativo, pois é um componente fundamental das proteínas, dos ácidos nucleicos (ADN) e da clorofila. Uma disponibilidade adequada de azoto promove um bom desenvolvimento de folhas e ramos, o que é essencial para uma elevada capacidade fotossintética. No entanto, o excesso de azoto pode ser prejudicial, levando a um crescimento demasiado luxuriante, a tecidos mais sensíveis a pragas e doenças, e a um atraso na maturação dos frutos.
O fósforo (P) desempenha um papel vital no armazenamento e transferência de energia na planta, sendo um componente chave de moléculas como o ATP. É crucial para o desenvolvimento inicial do sistema radicular, o que o torna especialmente importante na fase de plantação e nos primeiros anos da árvore. Além disso, o fósforo está envolvido nos processos de floração, frutificação e formação de sementes. A sua carência manifesta-se por um crescimento reduzido, folhas de cor verde-escura ou arroxeada e um sistema radicular pobre.
O potássio (K) é frequentemente chamado de “nutriente da qualidade”. Embora não faça parte de nenhum composto estrutural da planta, atua como ativador de inúmeras enzimas e é fundamental na regulação do potencial hídrico das células, controlando a abertura e o fecho dos estomas. Para o castanheiro, o potássio é particularmente importante durante a fase de enchimento do fruto, pois está diretamente envolvido no transporte de açúcares das folhas para as castanhas. Níveis adequados de potássio resultam em frutos de maior calibre, mais pesados e com melhor sabor, e aumentam a resistência geral da árvore a stresses como a seca e as doenças.
O cálcio (Ca), o magnésio (Mg) e o enxofre (S) são os restantes macronutrientes. O cálcio é essencial para a estrutura das paredes celulares e das membranas, contribuindo para a firmeza dos tecidos. O magnésio é o átomo central da molécula de clorofila, sendo, por isso, indispensável para a fotossíntese. O enxofre é um componente de alguns aminoácidos e vitaminas e é importante na formação de proteínas. A disponibilidade destes nutrientes está muitas vezes ligada ao pH do solo, e as suas carências podem ser corrigidas com a aplicação de calcários dolomíticos (que fornecem cálcio e magnésio) ou sulfatos.
Micronutrientes e o seu papel
Embora necessários em quantidades muito pequenas, os micronutrientes são tão essenciais para o desenvolvimento do castanheiro como os macronutrientes. A sua falta pode causar graves problemas fisiológicos e limitar a produção, mesmo que todos os outros nutrientes estejam em níveis ótimos, um princípio conhecido como a Lei do Mínimo de Liebig. O ferro (Fe) é um dos micronutrientes mais importantes, sendo essencial para a síntese da clorofila. A sua carência, conhecida como clorose férrica, é comum em solos calcários (com pH elevado) e manifesta-se por um amarelecimento das folhas mais novas, enquanto as nervuras permanecem verdes.
O boro (B) desempenha um papel crucial na formação da parede celular, na germinação do pólen e no vingamento do fruto. A sua carência pode levar a uma má polinização, à queda de flores e frutos jovens, e a deformações nos frutos e nos tecidos de crescimento. Os castanheiros são relativamente exigentes em boro, e a sua carência pode ser um fator limitante em muitos solos. No entanto, a margem entre a carência e a toxicidade do boro é estreita, pelo que a sua aplicação deve ser feita com muito cuidado, idealmente com base em resultados de análises foliares.
O manganês (Mn) e o zinco (Zn) atuam como ativadores de diversas enzimas envolvidas em processos metabólicos chave, como a fotossíntese e a síntese de proteínas e hormonas de crescimento. A carência de manganês pode causar um amarelecimento entre as nervuras das folhas, semelhante à clorose férrica, mas afetando também as folhas mais velhas. A deficiência de zinco manifesta-se frequentemente por uma redução do tamanho das folhas (folhas pequenas ou “em roseta”) e um encurtamento dos entrenós dos ramos.
O cobre (Cu) é outro micronutriente essencial, fazendo parte de várias enzimas e estando envolvido na fotossíntese e na respiração. A sua carência é rara, mas pode ocorrer em solos muito orgânicos ou arenosos. A monitorização dos níveis de micronutrientes é mais eficazmente realizada através de análises foliares. Quando se detetam carências, estas podem ser corrigidas através de adubações ao solo com fertilizantes específicos ou, de forma mais rápida e eficaz, através de pulverizações foliares com produtos que contêm o micronutriente em falta numa forma facilmente assimilável pela planta.
Análise de solo e foliar como diagnóstico
A gestão racional da fertilização não pode ser feita com base em suposições ou em receitas universais. Cada pomar é um caso único, com um tipo de solo específico e um historial de cultivo próprio. Por isso, o diagnóstico através de análises é a única forma de conhecer as verdadeiras necessidades nutricionais das árvores. A análise de solo deve ser o primeiro passo, realizada antes da instalação do pomar e repetida a cada quatro ou cinco anos. Para a realizar, devem ser recolhidas várias subamostras de terra de diferentes pontos da parcela, à profundidade de 0-20 cm e 20-40 cm, que são depois misturadas para obter uma amostra composta representativa.
A análise de solo informa-nos sobre a textura, o pH, o teor de matéria orgânica e a concentração de nutrientes disponíveis no solo. O valor do pH é particularmente crítico para o castanheiro, pois determina a disponibilidade da maioria dos nutrientes. Por exemplo, em solos demasiado ácidos, o alumínio e o manganês podem atingir níveis tóxicos, enquanto a disponibilidade de fósforo, cálcio e magnésio diminui. Em solos alcalinos, a disponibilidade de micronutrientes como o ferro, o manganês e o zinco fica severamente comprometida. A análise de solo permite, assim, planear as adubações de fundo e de correção.
No entanto, a análise de solo não nos diz o que a planta está efetivamente a absorver. É aqui que entra a análise foliar, a ferramenta de diagnóstico mais poderosa para pomares em produção. A análise foliar mede a concentração de nutrientes nas folhas, refletindo o estado nutricional real da árvore nesse momento. Para ser comparável e fiável, a amostragem deve ser feita de forma padronizada: geralmente, recolhem-se folhas sãs, completamente desenvolvidas, da parte média de ramos do ano, em meados de julho ou início de agosto. A amostra deve ser composta por folhas de várias árvores representativas da parcela.
Os resultados da análise foliar são comparados com valores de referência (níveis de suficiência, carência e excesso) estabelecidos para a cultura do castanheiro. Se um nutriente estiver abaixo do nível de suficiência, indica uma carência que precisa de ser corrigida. Se estiver acima, pode indicar um consumo de luxo ou mesmo um nível de toxicidade. Com base na interpretação conjunta das análises de solo e foliar, é possível desenhar um programa de fertilização “à medida”, aplicando apenas os nutrientes necessários, nas doses corretas e na altura certa, o que resulta numa maior eficiência, poupança económica e menor impacto ambiental.
Tipos de fertilizantes e épocas de aplicação
A escolha dos fertilizantes e a definição do calendário de aplicação são passos cruciais na execução do plano de fertilização. Os fertilizantes podem ser classificados em orgânicos (como estrume, composto, etc.) e minerais ou químicos (como o nitrato de amónio, o superfosfato ou o cloreto de potássio). Os fertilizantes minerais fornecem nutrientes de forma rápida e concentrada, sendo úteis para corrigir carências específicas de forma célere. Os fertilizantes orgânicos, por sua vez, libertam os nutrientes de forma mais lenta e gradual e têm o benefício adicional de melhorar a estrutura e a biologia do solo.
Na prática, uma abordagem integrada que combine ambos os tipos de fertilizantes é muitas vezes a mais benéfica. A aplicação de matéria orgânica ao solo no inverno, a cada dois ou três anos, constitui a base da fertilidade a longo prazo. Esta adubação orgânica de fundo melhora a capacidade do solo para reter nutrientes e água e estimula a vida microbiana. Depois, as necessidades anuais de nutrientes, determinadas pelas análises, podem ser supridas com fertilizantes minerais, aplicados de forma mais direcionada.
A época de aplicação é tão importante como a dose. Os nutrientes devem ser aplicados quando a árvore tem capacidade para os absorver e quando as suas necessidades são mais elevadas, para maximizar a eficiência e evitar perdas por lixiviação ou volatilização. O fósforo (P) e o potássio (K), sendo pouco móveis no solo, são geralmente aplicados no final do inverno ou início da primavera, incorporados ligeiramente no solo na zona de projeção da copa. Desta forma, estarão disponíveis no solo quando a atividade radicular recomeçar.
O azoto (N), por ser muito móvel e facilmente perdido, deve ser aplicado de forma fracionada. Uma primeira aplicação pode ser feita no início da primavera (abrolhamento), para apoiar o crescimento inicial. Uma segunda aplicação pode ocorrer no final da primavera ou início do verão (após a floração), para apoiar o desenvolvimento dos frutos. Em solos arenosos ou em sistemas de rega gota a gota (fertirrega), pode ser vantajoso fracionar o azoto em ainda mais aplicações. A aplicação de nutrientes via foliar é uma excelente ferramenta para corrigir rapidamente carências de micronutrientes, aplicando-os diretamente onde são necessários.
Fertilização orgânica e práticas sustentáveis
A fertilização orgânica é a pedra angular de um sistema de produção de castanhas sustentável. A sua filosofia baseia-se em “alimentar o solo para que o solo alimente a planta”. A adição regular de matéria orgânica, na forma de composto, estrume bem curtido ou outros resíduos orgânicos, tem efeitos benéficos que vão muito para além do simples fornecimento de nutrientes. A matéria orgânica melhora a agregação das partículas do solo, aumentando a sua porosidade, aeração e capacidade de infiltração de água. Isto cria um ambiente radicular mais saudável e reduz o risco de erosão.
A matéria orgânica também aumenta a capacidade de troca catiónica (CTC) do solo, que funciona como um “íman” para os nutrientes, retendo-os no solo e evitando que se percam por lixiviação para as águas subterrâneas. Ao mesmo tempo, serve de alimento para uma vasta comunidade de microrganismos benéficos do solo (bactérias, fungos, etc.). Estes microrganismos desempenham funções vitais, como a decomposição da matéria orgânica, a ciclagem de nutrientes, tornando-os disponíveis para as plantas, e a supressão de patógenos do solo. Um solo biologicamente ativo é um solo mais resiliente e fértil.
Uma prática sustentável muito interessante em pomares de castanheiros é a utilização de adubos verdes. Consiste na sementeira de certas espécies de plantas, geralmente leguminosas (como trevos, tremoços ou favas) ou gramíneas, nas entrelinhas do pomar durante o outono. Estas plantas crescem durante o inverno, protegendo o solo da erosão e competindo com as infestantes. As leguminosas, através da sua simbiose com bactérias do género Rhizobium, têm a capacidade única de fixar o azoto atmosférico, enriquecendo o solo com este nutriente de forma natural e gratuita.
Na primavera, antes que entrem em competição por água com os castanheiros, estas culturas de cobertura são cortadas ou ceifadas e podem ser deixadas à superfície como mulching ou ligeiramente incorporadas no solo. Ao decompor-se, libertam os nutrientes que acumularam e aumentam o teor de matéria orgânica do solo. Esta prática, combinada com outras como o não revolvimento do solo e a aplicação de composto, contribui para um aumento contínuo da saúde e fertilidade do solo, reduzindo a dependência de fertilizantes sintéticos e promovendo um agroecossistema mais equilibrado e sustentável a longo prazo.