Share

Doenças e pragas do castanheiro

Daria · 25.08.2025.

O castanheiro, apesar da sua aparência robusta e da sua longevidade, é suscetível a um conjunto de doenças e pragas que podem comprometer seriamente a sua saúde e a produção. Algumas destas ameaças, como a doença da tinta e o cancro do castanheiro, foram responsáveis pela devastação de vastas áreas de soutos no passado, demonstrando o seu enorme potencial destrutivo. Atualmente, novas pragas, como a vespa das galhas, representam desafios adicionais para os produtores. Uma gestão fitossanitária eficaz requer, portanto, um conhecimento profundo dos principais inimigos da cultura, uma vigilância constante no pomar e a implementação de uma estratégia de proteção integrada que priorize a prevenção e a utilização de métodos de controlo de baixo impacto ambiental.

A abordagem moderna ao controlo de problemas fitossanitários baseia-se nos princípios da Proteção Integrada. Esta estratégia não visa a erradicação total das pragas e doenças, mas sim a sua manutenção abaixo do nível económico de dano, ou seja, do ponto a partir do qual os prejuízos causados justificam o custo de uma intervenção. Para isso, combina-se um leque variado de táticas, começando pelas medidas preventivas, como a escolha de variedades resistentes, a utilização de material vegetal são e a criação de condições que desfavoreçam os patógenos. A monitorização regular da presença e da evolução das populações de pragas e doenças no pomar é o pilar desta abordagem.

Quando a monitorização indica que o nível de uma praga ou doença atingiu um ponto crítico, a intervenção torna-se necessária. A Proteção Integrada preconiza o recurso preferencial a métodos de controlo não químicos, como a luta biológica (utilização de inimigos naturais), a luta biotécnica (utilização de feromonas para captura ou confusão sexual) ou a luta cultural (ajuste de práticas de maneio). O uso de produtos fitofarmacêuticos é considerado como o último recurso, devendo-se escolher produtos seletivos, que afetem o alvo mas preservem os organismos auxiliares, e aplicá-los apenas quando estritamente necessário e no momento mais oportuno.

A saúde geral do pomar é a melhor defesa contra a maioria dos problemas fitossanitários. Árvores bem nutridas, com um fornecimento de água adequado e a crescer num solo saudável, são naturalmente mais vigorosas e mais capazes de resistir e recuperar de ataques de pragas e doenças. Práticas como a poda de limpeza, que remove ramos secos ou doentes, e a manutenção de um bom arejamento da copa, contribuem para criar um microclima menos propício ao desenvolvimento de fungos. A gestão fitossanitária é, assim, uma componente inseparável da gestão global e integrada do pomar.

Principais doenças fúngicas

O castanheiro é atacado por várias doenças causadas por fungos, mas duas delas destacam-se pela sua gravidade histórica e potencial impacto: a doença da tinta e o cancro do castanheiro. A doença da tinta, causada por oomicetas do género Phytophthora (principalmente P. cinnamomi e P. cambivora), é uma doença radicular que provoca o apodrecimento das raízes e da base do tronco. Os sintomas na parte aérea incluem o amarelecimento e a redução do tamanho das folhas, a murcha súbita e a morte da árvore. Um corte na casca na base do tronco de uma árvore afetada revela uma mancha escura em forma de chama, que deu o nome à doença. A doença é favorecida por solos pesados, mal drenados e com excesso de humidade.

O cancro do castanheiro, causado pelo fungo Cryphonectria parasitica, é outra doença devastadora que ataca a casca dos ramos e do tronco. O fungo entra através de feridas (de poda, granizo, etc.) e desenvolve-se no câmbio e na casca, formando cancros de cor alaranjada que acabam por anelar o ramo ou o tronco, interrompendo o fluxo de seiva e causando a morte de toda a parte da planta acima do cancro. A doença dizimou os castanheiros americanos no início do século XX e causou também grandes perdas na Europa. A sua disseminação ocorre através de esporos transportados pelo vento, chuva e ferramentas.

Para além destas duas doenças major, existem outras que podem afetar o castanheiro. O oídio (Microsphaera alphitoides) é um fungo que se desenvolve na superfície das folhas e rebentos jovens, cobrindo-os com um revestimento pulverulento de cor branca. Geralmente, não causa danos significativos em árvores adultas, mas pode ser problemático em viveiros e em plantações jovens, retardando o seu crescimento. Várias outras doenças fúngicas podem causar manchas foliares, mas raramente atingem níveis de gravidade que justifiquem um controlo específico.

A podridão dos frutos, causada por diversos fungos, pode levar a perdas significativas na pós-colheita. Estes fungos infetam frequentemente os frutos ainda na árvore, através de feridas causadas por insetos ou de fissuras na casca, e desenvolvem-se durante o armazenamento, especialmente se as condições de humidade forem elevadas. A colheita atempada e cuidadosa, a eliminação de frutos danificados e um armazenamento adequado em condições de frio e humidade controlada são as melhores formas de prevenir este problema.

Estratégias de prevenção e controlo de fungos

A prevenção é a estratégia mais eficaz e sustentável para o controlo das doenças fúngicas do castanheiro. No caso da doença da tinta, a medida preventiva mais importante é evitar a plantação em solos de risco, ou seja, solos pesados, compactos e com má drenagem. Antes de plantar, é crucial avaliar a drenagem do terreno e, se necessário, implementar medidas para a melhorar, como a criação de valas de drenagem ou a plantação em camalhões. A utilização de porta-enxertos híbridos resistentes à Phytophthora é a solução mais segura e recomendada para plantar em áreas onde a doença é endémica ou o risco é elevado.

Para o controlo do cancro do castanheiro, a estratégia mais bem-sucedida tem sido a luta biológica através da hipovirulência. Este fenómeno consiste na utilização de estirpes do próprio fungo Cryphonectria parasitica que estão “infetadas” por um vírus (um mycovirus). Estas estirpes hipovirulentas são menos agressivas e, quando entram em contacto com as estirpes virulentas que causam a doença na árvore, transmitem-lhes o vírus, tornando-as também menos agressivas. A aplicação de uma pasta com estas estirpes hipovirulentas nos bordos dos cancros pode levar à sua cicatrização e à recuperação da árvore. A utilização de variedades resistentes é também uma via de prevenção importante.

As boas práticas culturais desempenham um papel fundamental na prevenção geral de doenças. A realização de podas adequadas, que garantam um bom arejamento e a penetração da luz na copa, cria um microclima menos favorável ao desenvolvimento de fungos foliares. A poda deve ser feita durante o período de repouso vegetativo, e as ferramentas devem ser desinfetadas entre árvores para evitar a transmissão de patógenos. Os cortes de poda de maior dimensão devem ser protegidos com um mastic cicatrizante. A remoção e destruição de ramos doentes ou de frutos mumificados do pomar ajuda a reduzir a fonte de inóculo para o ano seguinte.

O uso de fungicidas deve ser limitado e justificado. Em viveiro, tratamentos preventivos contra o oídio ou doenças radiculares podem ser necessários. Em pomar, a aplicação de produtos à base de cobre no outono, após a queda das folhas, pode ajudar a reduzir o inóculo de várias doenças para a campanha seguinte. No entanto, o controlo químico para doenças como a tinta ou o cancro em árvores adultas é geralmente pouco eficaz e inviável. A aposta deve ser sempre na resistência genética, na escolha do local adequado e nas boas práticas de maneio.

Pragas mais comuns do castanheiro

Nos últimos anos, a vespa das galhas do castanheiro (Dryocosmus kuriphilus) tornou-se a praga mais preocupante para a cultura a nível mundial. Este pequeno inseto de origem asiática põe os seus ovos nos gomos do castanheiro durante o verão. Na primavera seguinte, as larvas desenvolvem-se dentro dos gomos, induzindo a formação de galhas (estruturas anormais de cor verde ou avermelhada) nos rebentos e folhas. Estas galhas impedem o crescimento normal dos ramos, reduzem a área foliar e podem anular completamente a floração e a produção de frutos. Ataques severos e repetidos podem enfraquecer significativamente a árvore.

O bichado da castanha (Cydia splendana e, em menor grau, Pammene fasciana) é uma praga tradicional que afeta diretamente a qualidade do produto final. As borboletas adultas voam durante o verão e põem os ovos sobre os ouriços. Após a eclosão, a pequena larva perfura o ouriço e a castanha para se alimentar no seu interior, deixando para trás galerias e excrementos que inutilizam o fruto. O seu controlo é desafiador, pois a larva está protegida dentro do fruto durante a maior parte do seu ciclo de vida.

Os gorgulhos do género Curculio são outra praga importante que ataca os frutos. Os adultos são pequenos escaravelhos com um rostro (tromba) comprido, que utilizam para perfurar a casca da castanha e pôr os seus ovos no interior. A larva, de cor branca e sem patas, desenvolve-se dentro da castanha, consumindo a semente. Após a queda do fruto ao chão, a larva sai e enterra-se no solo, onde permanecerá até se transformar em adulto no ano seguinte. A presença destas larvas torna as castanhas impróprias para consumo.

Outras pragas, como os afídeos ou os ácaros, podem ocorrer no castanheiro, mas raramente atingem níveis que causem danos económicos significativos em árvores adultas e bem equilibradas. No entanto, é importante estar atento, pois desequilíbrios no ecossistema do pomar, por exemplo, pelo uso indiscriminado de inseticidas de largo espectro que eliminam os inimigos naturais, podem levar à explosão populacional destas pragas secundárias.

Métodos de luta integrada contra pragas

O controlo da vespa das galhas do castanheiro é um caso de sucesso da luta biológica clássica. A estratégia mais eficaz e sustentável consiste na largada massiva do seu inimigo natural específico, o parasitoide Torymus sinensis. Este pequeno inseto, também de origem asiática, põe os seus ovos dentro das galhas provocadas pela vespa, e as suas larvas alimentam-se das larvas da praga. Ao longo de vários anos, a população do Torymus sinensis estabelece-se no pomar e consegue regular a população da vespa, mantendo-a em níveis que não causam danos significativos. O controlo químico contra a vespa é ineficaz e altamente prejudicial para o parasitoide.

Para o controlo do bichado da castanha, a estratégia mais eficaz combina a monitorização com a intervenção no momento certo. A utilização de armadilhas com feromonas sexuais permite detetar o início e a intensidade do voo dos adultos. Com base nas capturas e em modelos de previsão, é possível determinar o período de maior risco de postura de ovos. É neste momento que devem ser aplicados os tratamentos inseticidas, visando atingir os ovos ou as larvas recém-eclodidas, antes que estas penetrem no fruto. Existem inseticidas autorizados para este fim, incluindo alguns adequados para a agricultura biológica, como os baseados em vírus da granulose.

O controlo dos gorgulhos baseia-se em grande medida em práticas culturais. Uma das medidas mais eficazes é a apanha frequente e completa de todas as castanhas do chão durante a colheita. Esta prática remove do pomar as castanhas que contêm as larvas, impedindo que estas se enterrem no solo e completem o seu ciclo de vida, reduzindo assim a população para o ano seguinte. A mobilização superficial do solo no inverno pode também expor as larvas hibernantes a predadores e às intempéries. O tratamento pós-colheita dos frutos com água quente (termoterapia) é fundamental para eliminar quaisquer larvas que já se encontrem dentro das castanhas colhidas.

A promoção da biodiversidade funcional no pomar é uma estratégia de luta integrada transversal e muito eficaz. A manutenção de sebes com espécies nativas ou de faixas floridas nas entrelinhas atrai e fornece abrigo e alimento a uma vasta gama de inimigos naturais (insetos predadores e parasitoides, como joaninhas, crisopas, sirfídeos e pequenas vespas). Estes auxiliares contribuem para o controlo natural de várias pragas, incluindo afídeos e larvas de lepidópteros, ajudando a manter o equilíbrio do agroecossistema e reduzindo a necessidade de intervenções químicas.

Monitorização e boas práticas culturais

A monitorização, ou estimativa do risco, é o pilar de qualquer programa de proteção integrada bem-sucedido. Não é possível tomar decisões de controlo racionais sem saber o que se passa no pomar. A monitorização envolve a observação visual regular das árvores para detetar os primeiros sinais ou sintomas de doenças e a presença de pragas. Esta observação deve ser feita de forma sistemática, percorrendo o pomar em diagonal e inspecionando um número representativo de árvores. É importante registar as observações para acompanhar a evolução dos problemas ao longo do tempo.

Para além da observação direta, a utilização de armadilhas é uma ferramenta de monitorização indispensável para muitas pragas. Como já mencionado, as armadilhas com feromonas são essenciais para seguir o voo do bichado da castanha. Para outros insetos, podem ser utilizadas armadilhas cromotrópicas (placas de cor, geralmente amarela ou branca, com uma película de cola) que capturam os insetos atraídos por essa cor. As contagens semanais do número de insetos capturados nas armadilhas fornecem informação objetiva sobre a dinâmica populacional da praga e ajudam a decidir se e quando intervir.

A implementação de boas práticas culturais é uma forma de prevenção contínua. Manter as árvores num bom estado nutricional e hídrico torna-as mais tolerantes a ataques. Uma poda de arejamento reduz a humidade no interior da copa, desfavorecendo as doenças fúngicas. A destruição dos restos de poda, especialmente se apresentarem sintomas de cancro ou outras doenças, é crucial para eliminar fontes de inóculo. Da mesma forma, a remoção de frutos mumificados da árvore e do solo reduz a sobrevivência de fungos e pragas de um ano para o outro.

O conhecimento do ciclo de vida das pragas e das condições que favorecem as doenças é fundamental para uma gestão eficaz. Saber quando a praga está na sua fase mais vulnerável permite direcionar os tratamentos para esse momento, aumentando a sua eficácia e reduzindo o número de aplicações. Da mesma forma, saber que a doença da tinta é favorecida pelo encharcamento do solo leva-nos a dar a máxima prioridade à escolha de locais bem drenados. Em suma, a informação e a observação são as ferramentas mais poderosas na proteção fitossanitária do castanheiro.

Também poderias gostar