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As necessidades de luz do castanheiro

Daria · 01.04.2025.

A luz solar é a fonte de energia primária para a vida na Terra e, para o castanheiro, como para todas as plantas verdes, é um fator ambiental absolutamente essencial e muitas vezes limitante. A quantidade e a qualidade da luz que uma árvore interceta determinam diretamente a sua capacidade de realizar a fotossíntese, o processo pelo qual converte a energia luminosa em energia química, na forma de açúcares. Esta energia é o combustível para todo o seu crescimento, desenvolvimento e, crucialmente, para a produção de castanhas. Uma gestão inadequada da luz no pomar pode levar a árvores menos vigorosas, a uma produção mais baixa e a frutos de menor qualidade. Por conseguinte, compreender as necessidades de luz do castanheiro e saber como otimizar a sua captação é um aspeto fundamental do seu cultivo bem-sucedido.

O castanheiro é uma espécie heliófila, o que significa que tem uma elevada necessidade de luz e prospera em condições de plena exposição solar. A sua arquitetura natural, com uma copa ampla e arredondada, é uma adaptação para maximizar a interceção da luz solar. Em ambientes florestais, compete vigorosamente com outras árvores para alcançar o dossel superior e aceder à luz direta. Em contexto de pomar, esta característica implica que o sombreamento, seja ele causado por árvores vizinhas, relevo ou edifícios, deve ser evitado a todo o custo. A escolha de locais de plantação com boa exposição solar é, por isso, o primeiro passo para satisfazer as suas exigências luminosas.

A luz influencia não só a quantidade de fotossíntese, mas também a morfologia da árvore e a distribuição da produção. Os ramos e as folhas que recebem mais luz são mais produtivos e geram frutos de melhor qualidade, com maior teor de açúcares. Pelo contrário, as partes da copa que ficam sombreadas tendem a tornar-se menos produtivas, a secar e a morrer prematuramente. Este fenómeno, conhecido como “auto-sombreamento”, é um problema comum em pomares densos ou com podas deficientes, levando a que a produção se concentre apenas na periferia da copa.

A gestão da luz num pomar de castanheiros é realizada através de duas ferramentas principais: o compasso de plantação e a poda. Um compasso adequado, que tenha em conta o desenvolvimento futuro da copa, é essencial para evitar a competição por luz entre árvores adjacentes. A poda, por sua vez, permite modelar a arquitetura da copa de cada árvore individualmente, garantindo que a luz penetre eficazmente no seu interior e seja distribuída de forma homogénea por todos os ramos. Estas duas práticas de maneio são, portanto, cruciais para criar um pomar eficiente do ponto de vista luminoso.

A importância da luz para a fotossíntese e crescimento

A fotossíntese é o processo bioquímico que sustenta a vida do castanheiro. Nas folhas, organelos chamados cloroplastos, que contêm o pigmento verde clorofila, capturam a energia dos fotões da luz solar. Esta energia é usada para quebrar moléculas de água (absorvida pelas raízes) e para combinar o hidrogénio resultante com o dióxido de carbono (captado da atmosfera através dos estomas), produzindo glicose (um açúcar simples) e libertando oxigénio. A glicose é a unidade básica de energia e o bloco de construção para todos os outros compostos orgânicos que a árvore necessita para viver e crescer.

A taxa de fotossíntese não é constante; é diretamente proporcional à intensidade da luz, até um certo ponto conhecido como ponto de saturação luminosa. Abaixo deste ponto, mais luz significa mais fotossíntese e, consequentemente, mais produção de açúcares. Se a intensidade luminosa for muito baixa, como no interior sombreado de uma copa densa ou num dia muito nublado, a taxa de fotossíntese pode descer a um nível tão baixo que é apenas suficiente para compensar a energia gasta na respiração da planta (ponto de compensação luminoso). Abaixo deste ponto, a folha tem um balanço energético negativo e acabará por morrer.

Os açúcares produzidos pela fotossíntese são transportados para todas as partes da árvore para serem utilizados de diferentes formas. Uma parte é usada imediatamente como fonte de energia para os processos metabólicos, através da respiração celular. Outra parte é convertida em compostos estruturais, como a celulose e a lenhina, que são usados para construir novas células e tecidos, resultando no crescimento de raízes, tronco, ramos e folhas. O excedente de açúcares é armazenado, principalmente na forma de amido, para ser usado em períodos de maior necessidade, como o abrolhamento na primavera ou o enchimento dos frutos.

Uma elevada eficiência fotossintética ao longo de toda a estação de crescimento é, portanto, a chave para uma árvore vigorosa e produtiva. Para que isto aconteça, é necessário que a maior área foliar possível esteja exposta a níveis de luz ótimos. Qualquer fator que limite a interceção de luz, como o sombreamento, ou que reduza a eficiência da fotossíntese, como a falta de água ou de nutrientes, terá um impacto negativo direto na quantidade total de energia que a árvore consegue produzir, afetando o seu crescimento e a sua capacidade de frutificação.

Exposição solar ideal e orientação do pomar

Para satisfazer as suas elevadas necessidades de luz, o castanheiro deve ser plantado em locais com máxima exposição solar durante todo o dia. As encostas com orientação a sul, sudeste ou sudoeste são geralmente as mais favoráveis no hemisfério norte, pois recebem um maior número de horas de sol direto. Devem ser evitadas encostas viradas a norte, que são mais sombrias e frias, assim como fundos de vale ou locais com sombra projetada por montanhas, florestas altas ou grandes construções. A topografia do terreno desempenha um papel crucial na determinação do microclima luminoso.

A orientação das linhas de plantação no pomar também pode influenciar a captação de luz. Em terrenos planos ou com pouco declive, a orientação norte-sul das linhas é geralmente a mais recomendada. Esta orientação permite que ambos os lados das árvores recebam luz solar direta ao longo do dia – o lado leste de manhã e o lado oeste à tarde. Isto promove um desenvolvimento mais simétrico das copas e uma distribuição mais uniforme da luz e da produção. Uma orientação este-oeste, pelo contrário, faria com que o lado norte da linha ficasse permanentemente à sombra do lado sul.

Em terrenos com um declive acentuado, a orientação das linhas é muitas vezes condicionada pela necessidade de as plantar seguindo as curvas de nível para controlar a erosão e facilitar a passagem de máquinas. Nestas situações, a gestão da luz através da poda torna-se ainda mais importante para compensar uma orientação que possa não ser a ideal do ponto de vista luminoso. É a combinação de uma boa escolha do local e de um desenho inteligente do pomar que estabelece as bases para uma ótima interceção de luz.

Além da luz direta, a planta também utiliza a luz difusa, que é a luz que foi dispersa pelas nuvens e pela atmosfera. A luz difusa pode penetrar mais profundamente no interior da copa do que a luz direta, sendo uma componente importante da energia luminosa total disponível para a fotossíntese. No entanto, a produtividade máxima do castanheiro está associada a elevados níveis de radiação solar direta, reforçando a importância de escolher locais abertos e soalheiros para a sua plantação.

Efeitos do sombreamento no desenvolvimento e produção

O sombreamento tem consequências profundas e negativas para o castanheiro. Quando uma folha ou um ramo é sombreado, a sua taxa de fotossíntese diminui drasticamente. Se o sombreamento for contínuo, o balanço de carbono desse ramo torna-se negativo, o que significa que ele consome mais energia na sua respiração do que aquela que produz. Nestas condições, a árvore “decide” que esse ramo já não é viável e deixa de lhe enviar seiva, levando à sua morte e queda. Este é um processo natural de auto-otimização da copa para maximizar a eficiência luminosa global.

O sombreamento excessivo no interior da copa, resultante de uma poda inadequada ou de um compasso de plantação demasiado apertado, leva à formação de uma zona improdutiva no centro da árvore. A produção de frutos concentra-se unicamente na periferia da copa, que é a única zona que recebe luz suficiente. Isto não só reduz o potencial produtivo total da árvore, como também torna a colheita menos eficiente. O objetivo de uma boa gestão é ter uma copa produtiva em todo o seu volume, não apenas na sua “casca” exterior.

A falta de luz também afeta a qualidade dos frutos. A produção de açúcares, que são essenciais para o sabor e o calibre das castanhas, depende diretamente da fotossíntese. Os frutos que se desenvolvem em ramos bem iluminados recebem um maior aporte de fotoassimilados e, por isso, tornam-se maiores, mais pesados e mais doces. Pelo contrário, os frutos de zonas sombreadas tendem a ser de menor qualidade e podem ter mais dificuldade em amadurecer corretamente. A luz é, portanto, um fator de qualidade.

Além dos efeitos diretos na fotossíntese e na produção, o sombreamento cria um microclima no interior da copa que é mais húmido e com menor circulação de ar. Estas condições são ideais para o desenvolvimento de muitas doenças fúngicas, como o oídio ou outras que causam manchas foliares. Portanto, uma copa bem iluminada e arejada não é apenas mais produtiva, mas também mais sã, reduzindo a necessidade de tratamentos fitossanitários. A gestão da luz é, assim, uma componente importante da proteção integrada.

Gestão da luz através da poda e do compasso de plantação

A gestão da luz num pomar começa no dia do seu planeamento, com a definição do compasso de plantação. A distância entre as árvores deve ser suficiente para garantir que, quando atingirem a sua dimensão adulta, as suas copas não se sombreiem mutuamente de forma excessiva. A escolha do compasso depende do vigor da combinação variedade/porta-enxerto, da fertilidade do solo e do sistema de condução da árvore. É preferível errar por excesso de espaço do que por defeito, pois a competição por luz é um dos problemas mais difíceis de corrigir num pomar adulto e denso.

Uma vez plantadas as árvores, a poda torna-se a principal ferramenta para gerir a luz a nível individual. A poda de formação, nos primeiros anos, visa criar uma estrutura de copa aberta, com os ramos principais bem distribuídos e com um bom ângulo de inserção. O objetivo é evitar a formação de um centro denso e criar uma estrutura que facilite a penetração da luz no futuro. Sistemas de condução como o “vaso” ou o “eixo central modificado” são desenhados precisamente com este objetivo em mente.

Em árvores adultas, a poda de manutenção ou de inverno tem como um dos seus principais objetivos o controlo da luz. Consiste na remoção de ramos que crescem para o interior da copa, ramos que se cruzam e ensombram, e na realização de “cortes de retorno” para limitar a expansão da copa e estimular a renovação de ramos produtivos em posições bem iluminadas. A poda em verde, realizada durante o verão, pode ser uma ferramenta complementar útil para remover rebentos ladrões que crescem verticalmente e sombreiam o interior da copa, melhorando a iluminação dos frutos em desenvolvimento.

O objetivo final da poda, do ponto de vista da gestão da luz, é criar “janelas” na copa que permitam que os raios solares penetrem até às zonas mais interiores e inferiores da árvore. Uma boa forma de avaliar a eficácia da poda é observar a projeção da sombra da árvore no chão ao meio-dia: uma copa bem podada deve projetar uma sombra com manchas de luz, e não uma sombra completamente compacta e escura. Uma gestão proativa da luz através do compasso e da poda é um investimento direto na produtividade, qualidade e sustentabilidade do pomar de castanheiros.

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