Apesar de ser conhecido pelas suas propriedades repelentes, o alho não está imune ao ataque de várias doenças e pragas que podem comprometer seriamente a saúde da planta e a qualidade da colheita. A vigilância constante e a implementação de práticas culturais preventivas são as ferramentas mais eficazes para manter a cultura saudável e minimizar a necessidade de intervenções químicas. Um produtor informado, capaz de reconhecer os primeiros sinais de problemas e de compreender as condições que favorecem a sua ocorrência, está muito mais bem preparado para proteger o seu investimento. Este artigo detalha as principais doenças e pragas que afetam o alho e as estratégias integradas para a sua gestão eficaz.
A prevenção é, sem dúvida, a estratégia mais importante na gestão de doenças e pragas do alho. Muitas das doenças mais devastadoras são transmitidas pelo solo ou pela semente, pelo que as boas práticas começam antes mesmo da plantação. A rotação de culturas é fundamental; evita plantar alho ou qualquer outra cultura da família Allium (como cebolas, alho-francês ou chalotas) no mesmo local por mais de um ano consecutivo. Idealmente, deve-se seguir uma rotação de três a quatro anos para quebrar os ciclos de vida dos patógenos do solo.
A utilização de material de plantio certificado e livre de doenças é outra medida preventiva crucial. Adquirir alho-semente de fontes fidedignas reduz drasticamente o risco de introduzir doenças como a podridão branca ou os nemátodos no teu solo. A seleção cuidadosa de dentes saudáveis e sem manchas para a plantação é igualmente importante. Um solo bem drenado e rico em matéria orgânica promove plantas vigorosas, que são naturalmente mais resistentes a doenças e ao stress causado por pragas.
A manutenção de uma boa circulação de ar à volta das plantas também é vital para prevenir doenças fúngicas foliares. Respeitar o espaçamento recomendado entre as plantas e manter os canteiros livres de ervas daninhas ajuda a reduzir a humidade na folhagem, criando um ambiente menos favorável para a germinação de esporos de fungos. Evitar a rega por aspersão, que molha as folhas, e optar por métodos que aplicam a água diretamente no solo, como a rega por gotejamento, contribui significativamente para a prevenção de doenças.
Por fim, a remoção e destruição de plantas infetadas assim que são detetadas pode impedir a propagação de uma doença por toda a cultura. Após a colheita, é essencial remover todos os resíduos vegetais do campo, pois estes podem abrigar patógenos e pragas que sobreviverão até à próxima estação. A implementação consistente destas práticas culturais forma uma defesa robusta e integrada contra a maioria dos problemas que podem afetar o alho.
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Principais doenças fúngicas
As doenças fúngicas representam uma das maiores ameaças ao cultivo de alho, podendo causar perdas significativas tanto no campo como durante o armazenamento. A podridão branca (Sclerotium cepivorum) é talvez a doença mais destrutiva, pois o fungo pode permanecer viável no solo por mais de 20 anos. Os sintomas incluem o amarelecimento e a morte das folhas inferiores, seguido pelo colapso da planta. Na base do bolbo, desenvolve-se um bolor branco e fofo, com pequenas estruturas pretas (esclerócios) semelhantes a sementes de papoila, e o bolbo apodrece. A prevenção através de rotações de culturas longas e o uso de material de plantio limpo são as únicas formas eficazes de controlo.
A ferrugem do alho (Puccinia allii) é outra doença fúngica comum, caracterizada pelo aparecimento de pequenas pústulas de cor laranja-avermelhada nas folhas e nos caules. Em infestações severas, a ferrugem pode reduzir significativamente a área fotossintética da planta, enfraquecendo-a e resultando em bolbos mais pequenos. A doença é favorecida por condições de alta humidade e temperaturas amenas. Para a controlar, é crucial garantir uma boa circulação de ar, evitar molhar a folhagem durante a rega e remover as folhas infetadas aos primeiros sinais.
O míldio (Peronospora destructor) manifesta-se como manchas pálidas, ovais e amareladas nas folhas, que mais tarde podem ser cobertas por um crescimento fúngico aveludado de cor cinza-púrpura, especialmente em condições de humidade elevada. As folhas infetadas acabam por murchar e morrer a partir da ponta. Tal como a ferrugem, o míldio prospera em tempo húmido e fresco. As medidas preventivas, como a rotação de culturas, o espaçamento adequado e a minimização da humidade foliar, são as melhores estratégias de gestão.
A podridão basal por Fusarium (Fusarium oxysporum f. sp. cepae) é uma doença do solo que infeta as raízes e a placa basal do bolbo, causando o seu apodrecimento. Os sintomas aéreos são semelhantes aos da podridão branca, com amarelecimento e morte das folhas. A doença é favorecida por temperaturas do solo mais elevadas. Evitar danos nos bolbos durante a plantação e a colheita, praticar a rotação de culturas e garantir uma boa drenagem do solo são medidas preventivas importantes.
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Pragas comuns do alho
Embora menos suscetível a pragas do que muitas outras hortícolas, o alho pode ser atacado por alguns insetos e ácaros específicos. A mosca-da-cebola (Delia antiqua) é uma praga significativa, cujas larvas escavam nos bolbos e caules, causando o amarelecimento, o murchar e a morte das plantas jovens. As plantas atacadas podem ser facilmente arrancadas do solo. A cobertura dos canteiros com redes anti-insetos no início da primavera pode impedir que as moscas adultas depositem os seus ovos perto das plantas. A rotação de culturas também ajuda a reduzir as populações da praga.
Os tripes (Thrips tabaci) são insetos minúsculos que se alimentam raspando a superfície das folhas e sugando a seiva, deixando para trás manchas prateadas ou esbranquiçadas. Em infestações graves, podem reduzir o vigor da planta e o tamanho do bolbo. Os tripes prosperam em tempo quente e seco. A aplicação de jatos de água fortes pode desalojá-los das plantas, e a utilização de sabão inseticida ou óleo de neem pode ser eficaz no controlo de populações maiores. A manutenção de plantas saudáveis e bem regadas torna-as menos suscetíveis.
Os nemátodos do caule e do bolbo (Ditylenchus dipsaci) são vermes microscópicos que podem causar danos devastadores. Infetam todas as partes da planta, levando a inchaços, deformações, amarelecimento e apodrecimento dos bolbos. Os bolbos infetados ficam moles, descolorados e leves. Esta praga é extremamente difícil de erradicar uma vez estabelecida no solo, podendo persistir por vários anos. A prevenção é a única estratégia viável, o que reforça a importância crítica de usar apenas alho-semente certificado e livre de nemátodos e de praticar rotações de culturas rigorosas.
Os ácaros, como o ácaro do bolbo (Aceria tulipae), podem ser um problema, especialmente durante o armazenamento. Estes ácaros microscópicos alimentam-se dos dentes, causando o seu ressecamento e descoloração. Embora os danos no campo sejam geralmente menores, podem levar a perdas significativas durante o armazenamento. A cura adequada do alho e o armazenamento em condições frescas e secas ajudam a suprimir a atividade dos ácaros. A inspeção do alho-semente antes da plantação também é importante para evitar a sua introdução.
Doenças virais e bacterianas
As doenças virais no alho são comuns e podem ser difíceis de diagnosticar, pois os sintomas são muitas vezes subtis ou podem ser confundidos com deficiências nutricionais. Vírus como o Vírus do Anel Amarelo da Cebola (OYDV) podem causar mosaicos amarelos, riscas ou manchas nas folhas, e geralmente levam a uma redução geral do vigor da planta e a bolbos mais pequenos. Os vírus são sistémicos, o que significa que infetam toda a planta e não têm cura.
A principal forma de propagação dos vírus é através da plantação de dentes infetados. Uma vez que o alho é propagado vegetativamente, qualquer vírus presente na planta-mãe será transmitido para toda a sua descendência. Alguns vírus também podem ser transmitidos por pulgões. A melhor estratégia de controlo é a prevenção rigorosa, que envolve o uso de material de plantio certificado como “livre de vírus”. A remoção de plantas sintomáticas e o controlo de pulgões podem ajudar a limitar a sua propagação no campo.
As doenças bacterianas são menos comuns no alho do que as fúngicas, mas podem ocorrer, especialmente em condições de alta humidade e temperaturas quentes. A podridão mole bacteriana, causada por espécies como Pectobacterium e Dickeya, pode transformar os tecidos do bolbo numa massa aquosa e malcheirosa. As bactérias geralmente entram na planta através de feridas causadas por pragas, ferramentas ou manuseamento inadequado.
Para prevenir doenças bacterianas, é fundamental evitar ferimentos nas plantas e nos bolbos em todas as fases, desde a plantação até ao armazenamento. Garantir uma boa drenagem do solo para evitar condições anaeróbicas e permitir que os bolbos sequem adequadamente durante o processo de cura são passos importantes. Uma vez que uma planta está infetada com uma podridão bacteriana, não há tratamento, e a planta deve ser removida e destruída para evitar a contaminação do solo e de outras plantas.
Estratégias de gestão integrada
A Gestão Integrada de Pragas e Doenças (GIP) é uma abordagem holística que combina diferentes estratégias para manter as populações de pragas e a incidência de doenças abaixo dos níveis que causam danos económicos, com o mínimo impacto no ambiente. Em vez de depender de uma única tática, como a aplicação de pesticidas, a GIP enfatiza a prevenção e utiliza uma combinação de práticas culturais, biológicas e, apenas quando necessário, químicas. No cultivo de alho, a GIP começa com a construção de um sistema de cultivo resiliente.
As práticas culturais são a base da GIP para o alho. Isto inclui tudo o que já foi mencionado: rotação de culturas, seleção de material de plantio saudável, preparação adequada do solo para garantir uma boa drenagem, espaçamento correto para a circulação de ar, gestão de ervas daninhas e rega adequada. Estas práticas criam um ambiente que favorece o crescimento de plantas fortes e desfavorece o desenvolvimento de patógenos e pragas.
O controlo biológico envolve a utilização de inimigos naturais para suprimir as populações de pragas. Incentivar a presença de insetos benéficos, como joaninhas, crisopídeos e vespas parasitoides, plantando flores que fornecem néctar e pólen, pode ajudar a manter sob controlo pragas como os pulgões e os tripes. A aplicação de nemátodos benéficos no solo também pode ajudar a controlar as larvas de algumas pragas.
O controlo químico deve ser sempre o último recurso numa estratégia de GIP. Se for necessário intervir, devem ser escolhidos produtos de baixo impacto, como sabões inseticidas, óleos hortícolas (como o óleo de neem) ou fungicidas à base de cobre ou enxofre. Estes produtos devem ser aplicados de forma direcionada e apenas quando a monitorização indica que a praga ou doença atingiu um limiar que justifica a intervenção. A leitura atenta dos rótulos e o seguimento das instruções são essenciais para uma aplicação segura e eficaz.
Photo: Matěj Baťha, CC BY-SA 2.5, via Wikimedia Commons