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A poda e o corte do limoeiro

Daria · 21.03.2025.

A poda é uma das práticas de jardinagem mais importantes e, por vezes, mais intimidantes para os cultivadores de limoeiros. No entanto, quando realizada com conhecimento e propósito, a poda transforma-se numa poderosa ferramenta para moldar não só a forma da árvore, mas também a sua saúde, vitalidade e capacidade produtiva. Um corte bem executado pode estimular o crescimento, melhorar a qualidade dos frutos, prevenir doenças e prolongar a vida da planta. Pelo contrário, uma poda inadequada ou negligenciada pode levar a uma estrutura de ramos fraca, a uma produção de frutos reduzida e a uma maior vulnerabilidade a pragas e doenças. Este artigo detalhado irá desmistificar o processo de poda do limoeiro, explicando os seus objetivos, as melhores técnicas e o momento ideal para a sua realização, capacitando-o a pegar nas suas ferramentas com confiança e a esculpir uma árvore que seja simultaneamente bela e generosamente produtiva.

Os objetivos da poda do limoeiro são múltiplos e vão muito além da simples estética. O principal objetivo é manter a saúde da árvore. Isto consegue-se através da remoção de ramos mortos, doentes ou danificados, que não só são improdutivos como podem servir de porta de entrada para infeções fúngicas e bacterianas. A poda sanitária, como é chamada, deve ser a primeira prioridade em qualquer sessão de poda. Ao eliminar estas partes comprometidas, a energia da planta é redirecionada para os seus tecidos saudáveis, promovendo um crescimento mais vigoroso.

Um segundo objetivo crucial é melhorar a estrutura da árvore e a produção de frutos. A poda ajuda a criar uma copa aberta e arejada, o que permite que a luz solar penetre em todas as partes da planta. Uma boa exposição solar é essencial para a fotossíntese e para a maturação uniforme dos frutos. Da mesma forma, uma melhor circulação de ar no interior da copa ajuda a reduzir a humidade e, consequentemente, o risco de desenvolvimento de doenças fúngicas. A poda também permite remover ramos fracos ou mal posicionados que competem por recursos, incentivando o desenvolvimento de ramos mais fortes e produtivos.

A gestão do tamanho e da forma da árvore é outro objetivo importante, especialmente para limoeiros cultivados em espaços mais pequenos ou em vasos. A poda de controlo permite manter a árvore num tamanho manejável, facilitando a sua proteção durante o inverno, a aplicação de tratamentos e, claro, a colheita dos frutos. Uma forma de copa bem definida, geralmente em formato de taça ou vaso aberto, com três a quatro ramos principais bem distribuídos, cria uma estrutura forte e equilibrada, capaz de suportar o peso de uma colheita abundante sem que os ramos se partam.

Finalmente, a poda pode ser utilizada para rejuvenescer uma árvore mais velha e negligenciada que se tenha tornado demasiado densa e pouco produtiva. Uma poda de renovação, embora mais drástica, pode revitalizar a árvore, estimulando o crescimento de novos ramos frutíferos e restaurando o seu vigor. A poda é, portanto, um diálogo contínuo com a árvore, uma forma de a guiar e apoiar ao longo do seu ciclo de vida para maximizar a sua saúde e generosidade.

O momento certo para a poda

O timing da poda é um dos fatores mais críticos para o seu sucesso. Podar na altura errada pode stressar a árvore e até prejudicar a produção de frutos. A regra geral e mais importante é evitar podas severas durante o outono e o inverno em climas frios. A poda estimula novo crescimento, e os rebentos tenros que surgem no final da estação não terão tempo suficiente para amadurecer antes da chegada das geadas, sendo facilmente danificados ou mortos pelo frio. Isto representa um desperdício de energia para a árvore e aumenta a sua vulnerabilidade.

O período ideal para a poda principal do limoeiro é no final do inverno ou no início da primavera. Neste momento, a árvore ainda está em dormência ou a começar a sair dela, e o risco das geadas mais fortes já passou. Podar antes do início do grande surto de crescimento primaveril permite que a árvore direcione toda a sua energia para a cicatrização dos cortes e para o desenvolvimento de novos ramos fortes nos locais desejados. Esta poda prepara a árvore para a estação de crescimento que se avizinha, otimizando a sua estrutura para a produção de flores e frutos.

Após a colheita principal dos frutos é também um bom momento para realizar a poda, especialmente em climas onde os limoeiros produzem durante todo o ano. Isto permite remover os ramos que já frutificaram e que podem estar enfraquecidos, abrindo espaço para novo crescimento. No entanto, é importante ter em atenção que o limoeiro pode ter flores, frutos verdes e frutos maduros em simultâneo. Ao podar, é inevitável que se removam algumas flores ou frutos pequenos, mas isto faz parte do processo de gestão da árvore para uma melhor produção futura.

Embora a poda estrutural deva ser confinada a estes períodos específicos, a poda de manutenção ligeira pode ser feita em qualquer altura do ano. Isto inclui a remoção de ramos mortos, partidos ou visivelmente doentes assim que são detetados. A remoção imediata de “ramos-ladrões” (rebentos verticais e vigorosos que crescem a partir dos ramos principais) e de rebentos do porta-enxerto (que crescem abaixo do ponto de enxertia) é também uma tarefa que deve ser realizada regularmente, independentemente da estação, para evitar que estes consumam desnecessariamente a energia da planta.

Ferramentas e técnicas de corte

A utilização de ferramentas adequadas, limpas e bem afiadas é fundamental para uma poda eficaz e segura para a árvore. Para ramos pequenos e médios (até 2 cm de diâmetro), uma tesoura de poda de bypass é a ferramenta de eleição. Este tipo de tesoura tem duas lâminas curvas que se cruzam como uma tesoura normal, fazendo um corte limpo e preciso que cicatriza mais rapidamente. Para ramos maiores, uma serra de poda curva é a mais indicada. É essencial que as lâminas estejam afiadas para evitar esmagar os tecidos da planta ou deixar cortes irregulares, que são mais suscetíveis a infeções.

A higiene das ferramentas é um aspeto não negociável da poda. As lâminas devem ser desinfetadas antes de começar a podar e entre cada árvore, para evitar a propagação de doenças. Uma simples limpeza com um pano embebido em álcool isopropílico ou numa solução de 1 parte de lixívia para 9 partes de água é suficiente. Esta prática é especialmente importante se estiver a remover ramos doentes.

A técnica de corte correta é crucial para a saúde da árvore. Ao remover um ramo inteiro, o corte deve ser feito junto à sua base, mas sem danificar o “colar do ramo”. O colar é a área ligeiramente inchada onde o ramo se junta a um ramo maior ou ao tronco. Esta área contém tecidos especializados que promovem uma cicatrização rápida e eficaz. O corte deve ser feito do lado de fora do colar, num ângulo ligeiramente oblíquo que se afasta do tronco. Nunca deixes um “toco” comprido, pois este irá morrer e apodrecer, tornando-se uma porta de entrada para doenças. Da mesma forma, um corte demasiado rente que remova o colar irá criar uma ferida muito maior e mais difícil de cicatrizar.

Quando se pretende apenas encurtar um ramo, o corte deve ser feito cerca de 6 mm acima de um gomo (ou botão) virado para o exterior. Fazer o corte acima de um gomo virado para fora incentiva o novo crescimento a desenvolver-se para fora da copa, contribuindo para uma estrutura mais aberta. O corte deve ser feito num ângulo de 45 graus, inclinado para longe do gomo, para que a água da chuva ou da rega escorra e não se acumule no corte, o que poderia favorecer o apodrecimento.

Poda de formação em árvores jovens

A poda durante os primeiros anos de vida do limoeiro, conhecida como poda de formação, é fundamental para estabelecer uma estrutura forte e equilibrada que irá suportar a árvore durante toda a sua vida. O objetivo nesta fase não é a produção de frutos, mas sim a criação de uma “arquitetura” de copa sólida. Quando se planta uma muda jovem, esta pode ser apenas uma haste única. Se for este o caso, deve-se podar a ponta a uma altura de cerca de 70-90 cm do solo. Este corte irá estimular a brotação de ramos laterais abaixo do ponto de corte.

A partir destes novos ramos laterais, seleciona-se três ou quatro que estejam bem espaçados radialmente ao redor do tronco e com um bom ângulo de inserção (idealmente entre 45 e 60 graus). Estes serão os ramos estruturais primários ou “pernadas”. Todos os outros ramos que brotarem do tronco principal devem ser removidos. Esta seleção cria a base para uma copa em forma de vaso aberto, que é ideal para a produção de citrinos.

Nos dois a três anos seguintes, o foco da poda continua a ser o desenvolvimento desta estrutura. Encurta-se ligeiramente os ramos primários selecionados para incentivar a sua ramificação e o desenvolvimento de ramos secundários. Remove-se qualquer ramo que cresça para o interior da copa, que se cruze com outros ou que tenha um ângulo de inserção muito estreito (ramos verticais), pois estes são estruturalmente mais fracos. O objetivo é manter o centro da árvore aberto e livre de congestionamento.

Durante esta fase de formação, é também crucial remover quaisquer flores ou pequenos frutos que a árvore jovem possa tentar produzir. Embora possa parecer contra-intuitivo, isto permite que a planta dedique toda a sua energia ao desenvolvimento de um sistema radicular forte e de uma estrutura de copa robusta. Uma árvore que é forçada a frutificar demasiado cedo pode ficar enfraquecida e o seu desenvolvimento a longo prazo pode ser comprometido. A paciência nos primeiros anos será recompensada com uma árvore muito mais saudável e produtiva no futuro.

Poda de manutenção em árvores maduras

Uma vez que o limoeiro tenha estabelecido a sua estrutura básica e tenha entrado em produção, a poda passa a ser de manutenção. Esta poda é geralmente menos drástica e tem como objetivo manter a saúde, a forma e a produtividade da árvore. Realizada anualmente, no final do inverno ou início da primavera, a poda de manutenção começa sempre com uma inspeção visual e a remoção de qualquer material morto, doente ou danificado. Este é o passo mais importante para a saúde da árvore.

O passo seguinte é a poda de desbaste. O objetivo é remover o excesso de ramos para reduzir a densidade da copa. Identifica e remove ramos que se cruzam ou que roçam uns nos outros, pois a fricção pode criar feridas. Remove ramos que crescem para o interior da árvore, bloqueando a luz e o ar. Elimina os “ramos-ladrões” (também conhecidos como “chupões”), que são rebentos muito vigorosos e verticais que consomem muita energia e raramente produzem frutos de qualidade. O objetivo é que, após a poda, se consiga “atirar um chapéu através da copa” sem que ele fique preso.

A poda de encurtamento também faz parte da manutenção. Consiste em encurtar os ramos que cresceram demasiado no ano anterior para manter o tamanho geral da árvore sob controlo e para estimular a ramificação. Esta prática é particularmente importante para manter os frutos a uma altura de colheita acessível. Geralmente, remove-se cerca de um terço do crescimento do ano anterior nos ramos principais.

É importante lembrar que os limoeiros frutificam principalmente em madeira nova. A poda estimula o crescimento de novos ramos, que serão os ramos produtivos nas estações seguintes. Uma poda de manutenção regular e equilibrada garante um ciclo contínuo de renovação da madeira frutífera, resultando numa produção mais consistente e de maior qualidade ano após ano. Uma árvore madura bem podada é um exemplo de equilíbrio entre o crescimento vegetativo e a produção de frutos.

📷 Pixabay

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