Share

A necessidade de nutrientes e a fertilização do marmeleiro

Daria · 21.06.2025.

Uma nutrição equilibrada é um requisito indispensável para que o marmeleiro expresse todo o seu potencial genético, resultando numa árvore saudável, com um crescimento vigoroso e uma produção de frutos abundante e de alta qualidade. A fertilização não deve ser vista como um ato isolado, mas sim como parte integrante de um plano de gestão do pomar, que começa com a compreensão das necessidades nutricionais da planta e da capacidade do solo em fornecê-las. Fornecer os nutrientes certos, nas quantidades adequadas e nos momentos oportunos, é a chave para sustentar o ciclo de vida da árvore, desde o desenvolvimento vegetativo até à maturação dos aromáticos marmelos. Uma fertilização inadequada, seja por defeito ou por excesso, pode levar a uma série de problemas, incluindo baixo rendimento, frutos de má qualidade e maior suscetibilidade a pragas e doenças.

O marmeleiro, como qualquer outra planta, requer um conjunto de macro e micronutrientes para as suas funções vitais. Os macronutrientes, necessários em maiores quantidades, incluem o azoto (N), o fósforo (P) e o potássio (K), bem como o cálcio (Ca), o magnésio (Mg) e o enxofre (S). O azoto é crucial para o crescimento vegetativo, o fósforo para o desenvolvimento das raízes e a floração, e o potássio para a qualidade dos frutos e a resistência da planta. Os micronutrientes, como o ferro (Fe), o manganês (Mn), o zinco (Zn) e o boro (B), são necessários em pequenas quantidades, mas a sua ausência pode causar sérios distúrbios fisiológicos.

A estratégia de fertilização deve começar com uma avaliação da fertilidade do solo. A realização de uma análise de solo antes da plantação e periodicamente ao longo da vida do pomar fornece informações valiosas sobre o pH, o teor de matéria orgânica e a disponibilidade dos principais nutrientes. Com base nestes resultados, é possível desenvolver um plano de fertilização personalizado, que corrija as deficiências existentes e reponha apenas os nutrientes que são exportados pela colheita e pelo crescimento da árvore, evitando aplicações desnecessárias e o potencial de poluição ambiental.

A matéria orgânica desempenha um papel central na nutrição do marmeleiro e na saúde do solo. A incorporação de composto, estrume bem curtido ou a utilização de adubos verdes melhora a estrutura do solo, aumenta a sua capacidade de retenção de água e nutrientes, e estimula a atividade de microrganismos benéficos. Estes microrganismos são fundamentais para a ciclagem de nutrientes, tornando-os disponíveis para a planta. Uma abordagem que priorize a saúde do solo e o uso de fertilizantes orgânicos cria um sistema mais resiliente e sustentável a longo prazo, reduzindo a dependência de fertilizantes sintéticos.

Os nutrientes essenciais e as suas funções

Para elaborar um plano de fertilização eficaz, é fundamental compreender o papel que cada nutriente desempenha no desenvolvimento do marmeleiro. O azoto (N) é o motor do crescimento vegetativo, sendo um componente essencial das proteínas, clorofila e enzimas. A sua disponibilidade influencia diretamente o desenvolvimento de folhas e ramos. Uma carência de azoto manifesta-se por um crescimento fraco e folhas amareladas (clorose), especialmente as mais velhas. No entanto, o excesso de azoto pode ser prejudicial, promovendo um crescimento vegetativo exuberante em detrimento da produção de frutos, tornando os tecidos mais tenros e suscetíveis a pragas e doenças.

O fósforo (P) desempenha um papel crucial nos processos de transferência de energia dentro da planta. É vital para o desenvolvimento de um sistema radicular forte, para a iniciação floral e para o vingamento dos frutos. A deficiência de fósforo pode resultar numa floração pobre, num desenvolvimento radicular deficiente e em folhas com uma tonalidade arroxeada. A sua disponibilidade no solo é fortemente influenciada pelo pH, sendo mais difícil de absorver em solos muito ácidos ou muito alcalinos.

O potássio (K) é frequentemente chamado de “nutriente da qualidade”. Ele regula a abertura e o fecho dos estomas, controlando a transpiração, e é fundamental para o transporte de açúcares das folhas para os frutos. Um bom fornecimento de potássio melhora o tamanho, o sabor, a cor e a capacidade de conservação dos marmelos. Além disso, o potássio aumenta a resistência da planta ao stress hídrico, às geadas e a certas doenças. A carência de potássio manifesta-se tipicamente pelo amarelecimento e necrose das margens das folhas mais velhas.

Os micronutrientes, embora necessários em quantidades muito pequenas, são igualmente vitais. O boro (B), por exemplo, é importante para a polinização e o desenvolvimento dos frutos, e a sua deficiência pode causar deformações e a formação de zonas suberosas (cortiça) na polpa do marmelo. O ferro (Fe) é essencial para a síntese da clorofila, e a sua carência (clorose férrica) é comum em solos calcários, manifestando-se por um amarelecimento das folhas mais novas, enquanto as nervuras permanecem verdes. Uma fertilização equilibrada deve garantir a disponibilidade de todos estes elementos.

Fertilização orgânica vs. mineral

Na gestão da nutrição do marmeleiro, o produtor pode optar por fertilizantes de origem orgânica ou mineral (sintéticos), ou uma combinação de ambos. A fertilização orgânica baseia-se na utilização de materiais de origem animal ou vegetal, como estrume, composto, guano ou farinhas de ossos e sangue. A grande vantagem destes fertilizantes é que, além de fornecerem nutrientes, melhoram a estrutura do solo a longo prazo. Eles promovem a agregação das partículas do solo, aumentam a capacidade de retenção de água e estimulam a vida microbiana, criando um solo mais vivo e saudável. Os nutrientes são libertados lentamente, à medida que a matéria orgânica se decompõe, o que reduz o risco de perdas por lixiviação e de queimar as raízes.

Os fertilizantes minerais ou sintéticos, por sua vez, são produzidos industrialmente e oferecem nutrientes numa forma altamente concentrada e de rápida disponibilidade para as plantas. Isto permite corrigir deficiências nutricionais de forma rápida e precisa. A sua composição é conhecida e uniforme, facilitando o cálculo exato das doses a aplicar. No entanto, a sua utilização exclusiva e a longo prazo pode levar à degradação da estrutura do solo, à redução da matéria orgânica e à acidificação. O uso excessivo pode também levar à salinização do solo e à contaminação das águas subterrâneas por lixiviação de nitratos.

Uma abordagem integrada, que combina os benefícios de ambos os tipos de fertilização, é muitas vezes a mais sensata e sustentável. A base da fertilidade do solo deve ser construída através da aplicação regular de matéria orgânica, que cria um sistema robusto e resiliente. Os fertilizantes minerais podem então ser usados de forma complementar e estratégica para suprir necessidades específicas da cultura em momentos de maior procura, como na fase de crescimento dos frutos, ou para corrigir rapidamente deficiências diagnosticadas através de análises de solo ou foliares.

Independentemente da escolha, a aplicação correta é fundamental. Os fertilizantes devem ser distribuídos uniformemente na zona de projeção da copa da árvore, onde se encontra a maior parte das raízes absorventes, evitando o contacto direto com o tronco. Após a aplicação de fertilizantes granulados, uma ligeira incorporação no solo seguida de uma rega ajuda a que os nutrientes cheguem mais rapidamente à zona radicular e evita perdas por volatilização, no caso de alguns fertilizantes azotados.

O momento certo para fertilizar

O calendário de fertilização do marmeleiro deve estar sincronizado com o seu ciclo de crescimento para maximizar a eficiência da absorção de nutrientes. A aplicação de fertilizantes em momentos em que a árvore não os consegue utilizar é um desperdício de recursos e pode ser prejudicial para o ambiente. A principal época de fertilização ocorre no final do inverno ou início da primavera, um pouco antes do abrolhamento. Esta aplicação, rica em azoto, fósforo e potássio, fornece a energia necessária para o arranque do crescimento vegetativo, o desenvolvimento das folhas e a floração.

Uma segunda aplicação pode ser benéfica no final da primavera ou início do verão, durante a fase de crescimento rápido dos frutos. Nesta altura, a procura de nutrientes, especialmente de potássio e azoto, é muito elevada. Uma fertilização de cobertura nesta fase ajuda a garantir que os frutos atinjam o seu calibre máximo e acumulem os açúcares necessários para um bom sabor. No entanto, deve-se evitar a aplicação de azoto em excesso e demasiado tarde na estação, pois isso pode estimular o crescimento vegetativo em detrimento da maturação dos frutos e tornar a madeira menos resistente às geadas de inverno.

No outono, após a colheita, pode ser realizada uma fertilização específica, conhecida como fertilização pós-colheita. Esta aplicação tem como objetivo repor as reservas da árvore que foram gastas durante a produção de frutos. É focada em nutrientes como o potássio, o magnésio, o boro e o zinco, que são importantes para a diferenciação dos gomos florais que darão origem à produção do ano seguinte e para aumentar a resistência da árvore ao frio do inverno. A aplicação de azoto nesta fase deve ser muito reduzida ou nula.

A utilização de fertilizantes de libertação lenta ou a aposta na matéria orgânica pode simplificar o calendário de fertilização. O composto ou o estrume, aplicados uma vez por ano no inverno ou início da primavera, libertam os seus nutrientes gradualmente ao longo de toda a estação de crescimento, acompanhando de forma mais natural as necessidades da planta. Esta abordagem é particularmente interessante para a jardinagem biológica e para quem procura um método de manutenção mais simples e de menor intervenção.

Diagnóstico de carências nutricionais

A observação atenta do marmeleiro é uma ferramenta poderosa para diagnosticar possíveis problemas nutricionais. A árvore “comunica” o seu estado de saúde através da cor, tamanho e aspeto das suas folhas, ramos e frutos. Aprender a interpretar estes sinais visuais permite uma intervenção mais rápida e direcionada. Uma das carências mais fáceis de identificar é a de azoto, que provoca um amarelecimento uniforme das folhas mais velhas (na base dos ramos), uma vez que o azoto é um nutriente móvel e a planta o transfere das folhas mais velhas para as mais novas.

A deficiência de potássio também se manifesta primeiro nas folhas mais velhas, mas os sintomas são diferentes: as margens das folhas ficam amarelas e, posteriormente, necrosam (ficam castanhas e secas), enquanto o centro da folha permanece verde. Em contraste, as carências de micronutrientes como o ferro, o manganês ou o zinco aparecem tipicamente nas folhas mais novas (no topo dos ramos), porque estes elementos são imóveis na planta. A clorose férrica, comum em solos calcários, é o exemplo clássico, com as folhas jovens a ficarem amarelas ou quase brancas, mas com as nervuras a manterem-se verdes.

A deformação dos frutos ou problemas na polinização podem estar relacionados com a falta de boro. Frutos pequenos, com fissuras ou com manchas suberosas (semelhantes a cortiça) no interior podem ser um forte indicador desta carência. A queda excessiva de frutos pequenos após o vingamento também pode, por vezes, estar associada a desequilíbrios nutricionais, embora outras causas, como o stress hídrico ou a polinização deficiente, sejam mais comuns.

Embora o diagnóstico visual seja útil, ele não é infalível e os sintomas de diferentes carências podem por vezes ser confundidos. Para uma confirmação precisa e para quantificar a severidade do problema, as análises laboratoriais são insubstituíveis. A análise foliar, realizada em amostras de folhas colhidas num período específico do ciclo de crescimento, permite conhecer o estado nutricional real da planta naquele momento. A combinação da análise foliar com a análise de solo oferece um diagnóstico completo e permite fazer recomendações de fertilização muito mais precisas e eficazes.

Também poderias gostar