A poda do abrunheiro é uma das intervenções mais importantes e transformadoras que podes realizar, sendo uma arte que equilibra o vigor natural e selvagem da planta com os objetivos do jardineiro. Longe de ser um ato violento, um corte bem executado é uma conversa com o arbusto, direcionando o seu crescimento, estimulando a sua saúde e potenciando a sua capacidade de florir e frutificar. Seja para formar uma sebe impenetrável, para rejuvenescer um exemplar antigo ou simplesmente para garantir uma colheita abundante, dominar as técnicas de poda é essencial para desvendar todo o potencial desta espécie rústica e generosa. Empunhar a tesoura de poda com conhecimento e propósito é a chave para manter o teu abrunheiro não só bonito, mas também saudável e produtivo por muitos anos.
A melhor época para a poda
O momento escolhido para podar o abrunheiro tem um impacto direto na sua resposta e na sua saúde, sendo um fator crítico para o sucesso da operação. A época ideal para a maioria das podas estruturais e de manutenção é durante o período de dormência da planta, que se estende desde o final do outono, após a queda das folhas, até ao final do inverno, antes do início do novo crescimento na primavera. Podar nesta fase oferece várias vantagens significativas. Primeiramente, a ausência de folhas permite uma visão clara e desimpedida de toda a estrutura de ramos, facilitando a identificação de problemas e a tomada de decisões sobre que ramos remover.
Podar durante a dormência minimiza também o stress para a planta. Como o seu metabolismo está em repouso, a perda de seiva através dos cortes é mínima, e a planta não está a desviar energia para o crescimento de folhas, o que lhe permite selar as feridas da poda de forma mais eficiente quando o crescimento recomeça na primavera. Além disso, o risco de transmissão de certas doenças, especialmente as fúngicas e bacterianas que atacam a madeira, é menor durante o tempo frio e seco do inverno, uma vez que muitos patógenos estão inativos.
É importante, no entanto, evitar podar em dias de geada forte ou quando as temperaturas estão extremamente baixas, pois a madeira congelada é mais quebradiça e os cortes podem não ser limpos, além de que as feridas podem demorar mais a cicatrizar. O ideal é escolher um dia seco e ameno no meio do inverno. Se o objetivo principal for maximizar a produção de flores, a poda deve ser feita antes do início do desenvolvimento dos gomos florais.
Existe uma exceção a esta regra da poda de inverno. Se o teu abrunheiro for utilizado como uma sebe formal, que requer um controlo de forma mais apertado, pode ser necessário um segundo corte ou aparo durante o verão, geralmente após a floração. Este corte de verão ajuda a manter a forma compacta da sebe, mas deve ser mais ligeiro do que a poda de inverno para não esgotar as reservas de energia da planta.
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Poda de formação em plantas jovens
A poda de formação, realizada durante os primeiros dois a três anos após a plantação, é fundamental para estabelecer uma estrutura forte, equilibrada e bem arejada que servirá de base para toda a vida do abrunheiro. O objetivo não é reduzir o tamanho da planta, mas sim orientar o seu crescimento. Negligenciar esta fase pode resultar num arbusto com ramos mal posicionados, cruzados e uma copa demasiado densa, o que pode levar a problemas futuros de saúde e a uma produção de frutos de menor qualidade.
No primeiro inverno após a plantação, o foco deve ser a criação de uma estrutura principal. Seleciona entre três a cinco ramos mais fortes e bem distribuídos à volta do tronco para formarem a “armação” principal do arbusto. Remove todos os outros ramos que crescem a partir da base, assim como quaisquer ramos fracos, finos ou que estejam a crescer em ângulos muito fechados. Os ramos selecionados podem ser encurtados em cerca de um terço do seu comprimento, fazendo o corte logo acima de uma gema virada para o exterior. Este corte estimulará a ramificação nessa direção, promovendo uma copa mais aberta.
No segundo e terceiro ano, a poda de formação continua, baseando-se na estrutura estabelecida. O objetivo é remover os ramos que crescem para o interior do arbusto, os que se cruzam ou roçam uns nos outros (o que pode criar feridas e pontos de entrada para doenças), e os ramos que competem diretamente com os ramos principais selecionados. Continua a encurtar ligeiramente os ramos principais e alguns secundários para incentivar uma ramificação densa e compacta.
É importante não ser demasiado agressivo nesta fase. O objetivo é guiar a planta, não impedi-la de crescer. Deixar uma quantidade suficiente de ramos e folhagem é crucial para que a jovem planta possa realizar a fotossíntese e gerar a energia necessária para o seu desenvolvimento. Uma boa poda de formação nos primeiros anos poupará muito trabalho no futuro e resultará num abrunheiro mais saudável, esteticamente agradável e produtivo.
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Poda de manutenção em plantas adultas
Uma vez que o abrunheiro atingiu a sua maturidade e tem uma estrutura bem formada, a poda passa a ser de manutenção. O objetivo desta poda anual é manter a saúde da planta, controlar o seu tamanho e forma, e garantir uma boa produção de frutos. Esta poda, realizada durante a dormência, começa sempre com uma limpeza sanitária. Deves inspecionar cuidadosamente o arbusto e remover todos os ramos que estejam mortos, doentes ou danificados, cortando-os até à madeira sã. Esta é a medida mais importante para prevenir a propagação de doenças.
De seguida, o foco passa para a gestão da densidade da copa. O abrunheiro tem uma tendência natural para se tornar muito denso, o que pode levar a um ensombramento do interior do arbusto, reduzindo a produção de frutos nessa zona e aumentando o risco de doenças fúngicas devido à má circulação de ar. Para contrariar isto, deves desbastar a copa, removendo alguns dos ramos mais velhos e menos produtivos desde a sua base. Remove também os ramos que crescem para o interior ou que se cruzam. O objetivo é permitir que a luz e o ar penetrem em todas as partes do arbusto.
O abrunheiro frutifica principalmente na madeira do ano anterior. Por isso, ao podar, é importante garantir que se mantém um bom equilíbrio entre madeira velha e madeira nova. Encurtar alguns dos ramos que frutificaram no ano anterior pode estimular o crescimento de novos rebentos que produzirão frutos no ano seguinte. Evita, no entanto, uma poda excessiva e indiscriminada de todos os ramos do ano, pois isso eliminaria a maior parte da colheita.
Finalmente, a poda de manutenção serve também para controlar o tamanho final do arbusto, adaptando-o ao espaço disponível no jardim. Se o abrunheiro estiver a ficar demasiado grande, podes reduzir o comprimento de alguns dos seus ramos principais, cortando sempre para um ramo lateral que esteja a crescer na direção desejada. Esta técnica, chamada de corte de retorno, permite reduzir o tamanho sem deixar tocos inestéticos.
Poda de rejuvenescimento
Com o tempo, um abrunheiro mais velho pode tornar-se demasiado denso, com muita madeira velha e pouco produtiva, e uma floração e frutificação decrescentes. Nestes casos, uma poda de rejuvenescimento, mais drástica, pode ser necessária para revitalizar a planta e estimular o crescimento de novos ramos produtivos. Esta é uma intervenção mais severa e deve ser planeada com cuidado, mas pode dar uma nova vida a um arbusto em declínio.
Existem duas abordagens principais para a poda de rejuvenescimento. A primeira, mais drástica, consiste em cortar todo o arbusto até uma altura de 15 a 30 centímetros do solo durante o período de dormência. O abrunheiro tem uma excelente capacidade de rebentar a partir da base, e na primavera seguinte, surgirão numerosos rebentos novos e vigorosos. Nos anos seguintes, terás de selecionar os rebentos mais fortes para formar a nova estrutura do arbusto, essencialmente realizando uma nova poda de formação. Este método resulta numa renovação completa, mas sacrifica a produção de frutos por um ou dois anos.
Uma segunda abordagem, menos radical e mais gradual, é o rejuvenescimento faseado ao longo de três anos. Em cada inverno, remove cerca de um terço dos ramos mais velhos e grossos, cortando-os o mais perto possível da base. No primeiro ano, selecionas e removes um terço dos piores ramos. No segundo ano, removes outro terço, e no terceiro ano, os restantes. Durante este período, a planta irá produzir novos rebentos a partir da base, que irão gradualmente substituir a estrutura antiga.
Este método gradual tem a vantagem de ser menos chocante para a planta e permite que ela continue a produzir alguns frutos durante o processo de renovação. Ao final dos três anos, terás um arbusto completamente renovado, com uma estrutura composta por ramos mais jovens e produtivos. Independentemente do método escolhido, após uma poda de rejuvenescimento, é importante apoiar a planta com uma boa rega e fertilização na primavera seguinte para potenciar a sua recuperação e o novo crescimento.
Ferramentas e técnicas de corte
A utilização de ferramentas adequadas e a aplicação de técnicas de corte corretas são fundamentais para uma poda eficaz e segura para a planta. As ferramentas essenciais incluem uma tesoura de poda de mão para ramos mais finos (até ao diâmetro de um polegar), uma tesoura de duas mãos (tesourão) para ramos mais grossos, e um serrote de poda para os ramos de maior diâmetro. É absolutamente crucial que todas as ferramentas estejam bem afiadas, pois uma lâmina cega esmaga os tecidos da planta em vez de os cortar, criando feridas que demoram mais a cicatrizar e são mais suscetíveis a infeções.
A desinfeção das ferramentas é igualmente importante para prevenir a transmissão de doenças de uma planta para outra, ou mesmo de um ramo doente para um ramo são na mesma planta. Antes de começar a podar, e especialmente ao passar de uma planta para outra, limpa as lâminas com álcool, lixívia diluída (1 parte de lixívia para 9 de água) ou outro desinfetante apropriado. Esta é uma prática simples que pode evitar problemas graves.
A técnica de corte é vital. Ao encurtar um ramo, o corte deve ser feito a cerca de 5 a 6 milímetros acima de uma gema (ou botão) saudável e, idealmente, virada para a direção em que pretendes que o novo crescimento se desenvolva (geralmente para o exterior da copa). O corte deve ser feito em bisel, ou seja, com uma ligeira inclinação, com a parte mais baixa do corte do lado oposto à gema e a parte mais alta logo acima dela. Esta inclinação permite que a água da chuva escorra, evitando que se acumule na ferida e na gema.
Ao remover um ramo inteiro, o corte deve ser feito junto ao seu ponto de inserção, seja no tronco ou noutro ramo maior. Deves cortar mesmo à face da “crista da casca” (a zona ligeiramente elevada onde o ramo se junta ao tronco), sem deixar um toco, que morreria e poderia apodrecer, mas também sem cortar demasiado rente ao tronco, o que danificaria o “colar do ramo” (uma zona de tecidos especializados na base do ramo que é responsável pela cicatrização). Um corte correto neste local permite que a planta feche a ferida de forma rápida e eficiente.