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A necessidade de nutrientes e a fertilização do abrunheiro

Linden · 28.08.2025.

Para que o abrunheiro revele todo o seu potencial, desde a sua estrutura espinhosa e densa até à sua generosa produção de frutos, é essencial compreender e satisfazer as suas necessidades nutricionais. Embora seja uma planta rústica, capaz de sobreviver em condições menos favoráveis, uma fertilização adequada e atempada pode transformar um arbusto mediano num exemplar exuberante e altamente produtivo. A nutrição do abrunheiro não se resume à aplicação esporádica de um adubo qualquer; trata-se de um processo contínuo de enriquecimento do solo e de fornecimento dos elementos certos, nos momentos certos, para apoiar cada fase do seu ciclo de vida. Dominar a arte da fertilização é garantir a longevidade e a vitalidade desta planta notável.

Compreender os nutrientes essenciais

O crescimento saudável do abrunheiro, tal como o de qualquer outra planta, depende de um fornecimento equilibrado de diversos nutrientes. Estes são geralmente divididos em macronutrientes, necessários em maiores quantidades, e micronutrientes, essenciais mas em quantidades muito pequenas. Os três macronutrientes primários, que certamente reconhecerás das embalagens de fertilizantes (NPK), são o Azoto (N), o Fósforo (P) e o Potássio (K). Cada um desempenha um papel vital e insubstituível no desenvolvimento da planta.

O Azoto (N) é o principal responsável pelo crescimento vegetativo, ou seja, pelo desenvolvimento de folhas e ramos. Uma quantidade adequada de azoto resulta numa folhagem verde e vigorosa, essencial para a fotossíntese. No entanto, o excesso de azoto pode ser prejudicial, estimulando um crescimento excessivo de folhas em detrimento da produção de flores e frutos, e tornando os tecidos da planta mais tenros e suscetíveis a pragas. É por isso que o equilíbrio é fundamental.

O Fósforo (P) desempenha um papel crucial no desenvolvimento do sistema radicular, na floração e na frutificação. É um elemento chave para a transferência de energia dentro da planta. Um bom fornecimento de fósforo no início da vida da planta promove um enraizamento forte, e mais tarde, apoia uma floração abundante e a formação de sementes e frutos. A sua carência pode resultar num crescimento atrofiado e numa produção de frutos reduzida.

O Potássio (K) é frequentemente chamado o “nutriente da qualidade”. Ele é fundamental para a saúde geral da planta, aumentando a sua resistência a doenças, à seca e a temperaturas extremas. O potássio regula processos vitais como a fotossíntese e a translocação de açúcares, o que influencia diretamente o tamanho, a cor e o sabor dos frutos. Um fornecimento adequado de potássio é, portanto, essencial para uma colheita de abrunhos de alta qualidade.

A importância da matéria orgânica

A base de qualquer programa de fertilização bem-sucedido, especialmente para uma planta como o abrunheiro, reside na qualidade do solo. A melhor forma de garantir um solo fértil e saudável a longo prazo é através da incorporação regular de matéria orgânica. Materiais como composto caseiro, estrume bem curtido de animais herbívoros, ou húmus de minhoca são verdadeiros tesouros para o jardim. Estes materiais não só fornecem uma vasta gama de nutrientes de libertação lenta, mas também melhoram drasticamente a estrutura do solo.

Ao adicionar matéria orgânica, estás a aumentar a capacidade do solo para reter água e nutrientes, o que significa que estes ficam disponíveis para a planta por mais tempo, reduzindo as perdas por lixiviação. Um solo rico em matéria orgânica é também mais arejado e fácil de trabalhar, permitindo que as raízes do abrunheiro se expandam sem dificuldade. Esta estrutura melhorada previne a compactação e o encharcamento, dois problemas que podem ser muito prejudiciais para a saúde radicular.

Além dos benefícios físicos, a matéria orgânica alimenta uma complexa teia de vida no solo, incluindo bactérias, fungos benéficos, minhocas e outros organismos. Esta atividade microbiana é crucial para decompor a matéria orgânica e transformar os nutrientes em formas que a planta consegue absorver. Um solo biologicamente ativo é um solo saudável, capaz de suprimir doenças e de fornecer um fluxo constante de nutrientes à planta, reduzindo a dependência de fertilizantes sintéticos.

A aplicação de matéria orgânica pode ser feita de várias formas. Podes incorporá-la no solo durante a preparação da cova de plantação, para dar ao jovem abrunheiro um excelente começo. Anualmente, na primavera ou no outono, podes espalhar uma camada de composto ou estrume à volta da base da planta, cobrindo a zona de projeção da copa. Esta camada funcionará como um fertilizante de libertação lenta e como um mulching protetor.

Quando e como fertilizar

O timing da fertilização é crucial para que os nutrientes estejam disponíveis para a planta quando ela mais precisa. A principal época de fertilização para o abrunheiro é no início da primavera, um pouco antes do abrolhamento. Uma aplicação de fertilizante nesta altura fornece a energia necessária para o crescimento de novos ramos, a formação de folhas e, mais importante, para uma floração abundante, que é a base para a futura colheita. Esta é a altura ideal para aplicar tanto adubos orgânicos de libertação lenta como fertilizantes minerais equilibrados.

Ao aplicar o fertilizante, este deve ser distribuído uniformemente sobre a superfície do solo, na área sob a copa da planta, conhecida como zona de gotejamento. É aqui que se concentra a maior parte das raízes absorventes. Evita concentrar o adubo junto ao tronco, pois isso pode causar queimaduras. Após a aplicação, é aconselhável incorporar ligeiramente o fertilizante na camada superficial do solo com um ancinho e, em seguida, regar bem. A rega ajuda a dissolver os nutrientes e a transportá-los para a zona radicular.

Para plantas jovens, nos primeiros dois a três anos, a fertilização deve ser mais ligeira para não forçar um crescimento excessivamente rápido e frágil. Nestes casos, a aplicação anual de composto pode ser suficiente. Para plantas adultas e em plena produção, uma fertilização mais completa é recomendada. Se optares por um fertilizante mineral, uma formulação equilibrada como um 10-10-10 ou similar é geralmente adequada. A dose a aplicar deve seguir as instruções do fabricante, ajustando-a ao tamanho e à idade do arbusto.

Uma segunda aplicação de fertilizante pode ser considerada no início do verão, especialmente se a planta mostrar sinais de carência ou se se esperar uma colheita muito grande. Esta segunda dose ajudará a suportar o desenvolvimento dos frutos. No entanto, deves evitar fertilizar no final do verão ou no outono, especialmente com adubos ricos em azoto. A fertilização tardia pode estimular o crescimento de novos rebentos que não terão tempo de amadurecer (lenhificar) antes da chegada do frio do inverno, tornando-os muito vulneráveis a danos pela geada.

Reconhecer sinais de deficiência

Aprender a observar o teu abrunheiro pode dar-te pistas importantes sobre o seu estado nutricional. As carências de nutrientes manifestam-se frequentemente através de alterações na cor, tamanho e forma das folhas. Embora uma análise de solo seja a forma mais precisa de diagnóstico, alguns sinais visuais podem ajudar a identificar possíveis problemas. Estar atento a estes sinais permite corrigir as deficiências antes que estas afetem gravemente a saúde e a produtividade da planta.

A deficiência de azoto é uma das mais comuns e fáceis de identificar. Manifesta-se por um amarelecimento geral e uniforme das folhas, começando geralmente pelas folhas mais velhas, na parte inferior da planta. O crescimento da planta torna-se lento e atrofiado. Se notares estes sintomas, uma aplicação de um fertilizante rico em azoto, como o sulfato de amónio, ou de uma fonte orgânica como o estrume de galinha bem curtido, pode ajudar a corrigir o problema.

A carência de fósforo é mais subtil. As folhas podem adquirir uma tonalidade verde-escura baça ou até mesmo arroxeada, e o crescimento da planta é visivelmente retardado. A floração e a frutificação serão fracas. A adição de farinha de ossos ou de superfosfato ao solo pode remediar esta deficiência. É importante notar que a disponibilidade de fósforo no solo é muito influenciada pelo pH, sendo menos disponível em solos muito ácidos ou muito alcalinos.

A deficiência de potássio manifesta-se tipicamente pelo amarelecimento e necrose (morte do tecido) das margens das folhas mais velhas. As folhas podem parecer “queimadas” nas bordas. A planta torna-se menos resistente a doenças e os frutos podem ser pequenos e de má qualidade. A aplicação de sulfato de potássio ou o uso de cinzas de madeira (com moderação, pois aumentam o pH) são formas de fornecer este nutriente essencial ao solo.

O papel dos micronutrientes

Embora necessários em quantidades muito menores, os micronutrientes, como o ferro, o manganês, o zinco e o boro, são igualmente vitais para a saúde do abrunheiro. As suas deficiências são menos comuns, mas podem ocorrer, especialmente em solos com pH desequilibrado, que podem “bloquear” a absorção destes elementos pelas raízes, mesmo que eles estejam presentes no solo. A melhor forma de prevenir carências de micronutrientes é manter um solo saudável e rico em matéria orgânica.

A deficiência de ferro, conhecida como clorose férrica, é relativamente comum em solos calcários (alcalinos). Manifesta-se por um amarelecimento das folhas mais novas, enquanto as nervuras permanecem verdes. Em casos graves, as folhas podem ficar quase brancas. A aplicação foliar de quelatos de ferro é a forma mais rápida de corrigir este problema, pois permite uma absorção direta pelas folhas. A longo prazo, a acidificação do solo através da adição de matéria orgânica, como turfa ou casca de pinheiro, pode ajudar a tornar o ferro mais disponível.

A carência de manganês pode apresentar sintomas semelhantes aos da deficiência de ferro, com um amarelecimento entre as nervuras, mas pode afetar tanto folhas novas como velhas. A deficiência de zinco pode causar o aparecimento de folhas pequenas e deformadas, agrupadas em rosetas. A falta de boro pode levar a uma má polinização e à deformação dos frutos.

A utilização regular de composto de boa qualidade é a melhor estratégia para fornecer um espectro completo de micronutrientes de forma equilibrada. O composto contém vestígios de todos estes elementos essenciais, libertando-os lentamente para o solo. Em casos de deficiências severas e diagnosticadas, podem ser usados fertilizantes específicos que contêm uma mistura de micronutrientes, aplicados de acordo com as recomendações do fabricante para evitar a toxicidade, pois a fronteira entre a suficiência e o excesso de micronutrientes é muito ténue.

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