A poda é uma das práticas de manutenção mais importantes e benéficas para a hortelã-pimenta, transformando uma simples colheita numa ferramenta poderosa para moldar e rejuvenescer a planta. Longe de ser um ato prejudicial, o corte regular estimula a planta a crescer de forma mais densa e arbustiva, aumenta a produção de folhas e ajuda a manter a sua saúde e vigor a longo prazo. Dominar as técnicas de poda e corte não só te garantirá uma oferta contínua de folhas frescas e aromáticas, mas também ajudará a controlar o crescimento vigoroso desta erva e a prevenir problemas como o aparecimento de doenças e o estiolamento. É uma interação dinâmica que beneficia tanto o jardineiro como a planta.
A prática mais comum e frequente de poda é, na verdade, a própria colheita. Em vez de apanhar folhas individuais, é muito mais vantajoso para a planta que cortes os caules. A regra de ouro é cortar cerca de um terço do comprimento do caule, fazendo sempre o corte logo acima de um par de folhas (um nó). Isto porque em cada nó existem gomos laterais adormecidos. Ao remover a ponta do caule, que produz hormonas que suprimem o crescimento lateral, estás a enviar um sinal a esses gomos para que se desenvolvam, resultando em dois novos ramos a crescer a partir do ponto de corte.
Esta colheita-poda regular pode ser feita durante toda a estação de crescimento, desde que a planta esteja bem estabelecida. Começa a podar assim que a planta atingir cerca de quinze a vinte centímetros de altura. A poda frequente não só promove uma forma mais compacta e cheia, mas também incentiva a produção contínua de folhas novas e tenras, que são geralmente as mais saborosas e aromáticas. Se deixares a planta crescer sem controlo, ela tende a desenvolver caules longos e lenhosos na base, com folhas concentradas apenas no topo, tornando-se menos produtiva e esteticamente menos agradável.
Outro aspeto crucial da poda é a remoção das flores. A hortelã-pimenta geralmente tenta florescer durante o verão, produzindo pequenas espigas de flores púrpuras ou brancas. Embora as flores sejam atrativas para os polinizadores, deves removê-las assim que as vires a formar-se se o teu objetivo é a produção de folhas. Quando a planta entra na fase de floração, a sua energia é desviada da produção de folhas para a produção de flores e sementes. Isto não só abranda o crescimento vegetativo, como também pode alterar o sabor das folhas, tornando-as ligeiramente mais amargas. Cortar as hastes florais incentiva a planta a voltar ao modo de produção de folhas.
A poda para um crescimento mais denso
O objetivo principal da poda da hortelã-pimenta é incentivar um hábito de crescimento mais denso e ramificado. A planta tem uma tendência natural para o crescimento apical, o que significa que o gomo no topo do caule principal cresce de forma dominante, enquanto os gomos laterais permanecem inativos. A poda remove este gomo terminal, quebrando a dominância apical e permitindo que os gomos axilares (localizados na junção das folhas com o caule) se desenvolvam. O resultado é uma planta que cresce para os lados, em vez de apenas para cima, criando uma forma muito mais cheia e produtiva.
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A técnica correta é fundamental para alcançar este resultado. Utiliza sempre uma tesoura de poda afiada e limpa ou mesmo as tuas unhas para fazer um corte limpo. Evita rasgar os caules, pois isso pode criar feridas que são portas de entrada para doenças. O corte deve ser feito cerca de meio centímetro acima de um nó foliar. Desta forma, os novos ramos terão uma base sólida a partir da qual crescer. Se deixares um pedaço de caule demasiado longo acima do nó, essa parte acabará por morrer e pode tornar-se um foco de apodrecimento.
A frequência desta poda estimulante é a chave. Em vez de esperar que a planta fique muito alta e depois fazer um corte drástico, é melhor fazer podas leves e regulares. Um bom ritmo é cortar os caules mais altos a cada duas a três semanas durante o pico da estação de crescimento. Este método de “beliscar” ou “despontar” constante mantém a planta num estado de crescimento vegetativo contínuo, maximizando a tua colheita. Esta abordagem também permite que a luz solar penetre mais profundamente na planta, alcançando as folhas inferiores e promovendo um crescimento mais uniforme em toda a sua estrutura.
Este tipo de poda é especialmente importante para a hortelã-pimenta cultivada em vasos. Num espaço limitado, uma planta “pernalta” e esparsa é particularmente indesejável. A poda regular ajuda a manter a planta compacta e com um tamanho adequado ao recipiente, evitando que se torne desequilibrada e desordenada. Ao promover uma folhagem densa, estás a otimizar o espaço de cultivo e a garantir que obténs o máximo rendimento possível da tua planta em vaso.
A poda de rejuvenescimento
Com o tempo, mesmo com podas regulares, um pé de hortelã-pimenta pode começar a ficar velho e menos produtivo. Os caules na base podem tornar-se grossos e lenhosos, e o centro da planta pode ficar aberto e vazio, com o crescimento vigoroso a concentrar-se apenas nas extremidades. Quando isto acontece, geralmente após dois ou três anos, uma poda de rejuvenescimento mais drástica pode ser necessária para revitalizar a planta e devolver-lhe o seu vigor juvenil.
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A melhor altura para realizar uma poda de rejuvenescimento é no início da primavera, assim que os primeiros sinais de novo crescimento aparecem, ou a meio do verão, para obter uma segunda colheita abundante no outono. A técnica consiste em cortar todos os caules da planta de forma radical, deixando apenas cinco a sete centímetros de altura acima do solo. Embora isto possa parecer extremo, a hortelã-pimenta é incrivelmente resiliente e responderá a este tratamento com um surto de crescimento novo, fresco e vigoroso a partir da sua base e do seu sistema de rizomas.
Após este corte severo, é uma excelente oportunidade para nutrir a planta e dar-lhe a energia necessária para a sua recuperação. Aplica uma camada de composto rico ou um fertilizante orgânico equilibrado à volta da base da planta e rega bem. Este impulso de nutrientes irá alimentar o desenvolvimento dos novos rebentos, que deverão começar a aparecer em apenas uma ou duas semanas. Em pouco tempo, terás uma planta completamente renovada, com caules tenros e folhas saborosas.
A poda de rejuvenescimento a meio do verão tem o benefício adicional de “reiniciar” a planta. Muitas vezes, em pleno verão, a hortelã-pimenta pode começar a parecer cansada, talvez com algumas folhas danificadas por pragas ou com um aspeto um pouco gasto devido ao calor. Ao cortá-la drasticamente, estás a remover toda essa folhagem velha e a forçar a planta a produzir uma nova colheita fresca que poderás desfrutar durante o final do verão e o outono. Esta é uma forma fantástica de prolongar a tua estação de colheita.
A poda antes da hibernação
A preparação da hortelã-pimenta para o inverno é outro momento em que a poda desempenha um papel crucial, embora com um objetivo diferente. A poda de final de estação não visa estimular o crescimento, mas sim preparar a planta para o período de dormência e garantir a sua saúde para a primavera seguinte. Esta poda deve ser realizada no final do outono, após as primeiras geadas leves terem “queimado” a folhagem, mas antes da chegada do frio intenso e do congelamento do solo.
O procedimento é semelhante à poda de rejuvenescimento: corta todos os caules da planta até uma altura de cerca de cinco centímetros do solo. A remoção de toda a parte aérea morta ou moribunda tem várias vantagens importantes. Em primeiro lugar, elimina potenciais habitats de inverno para pragas, como ovos de insetos, e reduz a quantidade de material vegetal onde esporos de fungos, como a ferrugem ou o oídio, podem sobreviver até à primavera seguinte. É uma medida de higiene fundamental para um recomeço limpo na nova estação.
Em segundo lugar, ao remover a parte aérea, a planta não gasta energia a tentar sustentar uma folhagem que inevitavelmente morrerá com o frio intenso. Em vez disso, a planta pode direcionar todas as suas reservas de energia para as raízes e rizomas, fortalecendo a parte da planta que precisa de sobreviver ao inverno. Um sistema radicular forte e bem nutrido é a melhor garantia de que a planta irá suportar as baixas temperaturas e rebentar com vigor quando o tempo aquecer.
Após esta poda final, é o momento ideal para aplicar a camada de cobertura morta (mulch) isolante, como palha ou folhas secas, sobre a base da planta. A combinação da poda e da cobertura morta cria as condições ideais para que a hortelã-pimenta sobreviva ao inverno em segurança. Ao seguir estes passos, estás essencialmente a “arrumar” o teu canteiro de hortelã para a estação fria, assegurando que, na primavera, ele estará pronto para um novo ciclo de crescimento exuberante e produtivo.
Ferramentas e técnicas de corte
Embora a poda da hortelã-pimenta possa ser feita simplesmente com as unhas, especialmente para o “beliscar” de pontas tenras, a utilização das ferramentas certas pode tornar o trabalho mais fácil, mais limpo e melhor para a saúde da planta. Uma tesoura de poda pequena e afiada, uma tesoura de ervas ou até mesmo uma tesoura de cozinha de boa qualidade são ideais. O mais importante é que a lâmina esteja afiada para fazer um corte limpo, em vez de esmagar o tecido do caule. Cortes esmagados danificam mais células e criam uma ferida maior e mais irregular, que demora mais a cicatrizar e é mais suscetível a infeções.
A limpeza das tuas ferramentas é um aspeto da técnica de poda que é frequentemente negligenciado, mas que é de extrema importância para prevenir a propagação de doenças. Antes de começar a podar, e especialmente se estiveres a passar de uma planta para outra, é uma boa prática desinfetar as lâminas da tua ferramenta. Podes fazer isto limpando-as com álcool isopropílico, lixívia diluída (uma parte de lixívia para nove partes de água) ou um spray desinfetante. Isto é particularmente crucial se tiveres estado a podar uma planta que mostrava sinais de doença.
A técnica de corte, como já mencionado, envolve fazer um corte preciso logo acima de um nó. Para podas mais leves, o corte pode ser feito num ângulo de 45 graus, o que ajuda a que a água escorra da superfície do corte, mas para os caules finos da hortelã-pimenta, um corte reto é perfeitamente aceitável. O importante é a proximidade ao nó, sem danificar os gomos axilares. Para podas drásticas, como a de rejuvenescimento ou a de inverno, a precisão da altura do corte é menos crítica, mas a utilização de uma ferramenta afiada para um corte limpo continua a ser importante.
Finalmente, não te esqueças que cada corte é uma oportunidade de colheita. Não deites fora as pontas que podas, a menos que estejam doentes. Usa-as para fazer um chá fresco, adiciona-as a uma salada ou a um copo de água, ou coloca-as num pequeno vaso com água para enraizarem e criares novas plantas. A poda da hortelã-pimenta é uma das tarefas de jardinagem mais gratificantes porque os “resíduos” são, na verdade, o teu prémio. É um ciclo virtuoso de cuidado que resulta em mais abundância.