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As doenças e pragas do limoeiro

Daria · 08.04.2025.

Mesmo com os cuidados mais diligentes, o limoeiro pode ser alvo de uma variedade de doenças e pragas que ameaçam a sua saúde e produtividade. Reconhecer os primeiros sinais de um problema e saber como agir de forma rápida e eficaz é uma competência essencial para qualquer cultivador de citrinos. Desde insetos minúsculos que sugam a seiva vital da planta até doenças fúngicas que podem apodrecer as raízes e manchar os frutos, as ameaças são diversas. Uma abordagem proativa, focada na prevenção e na monitorização constante, é a melhor defesa. Este artigo especializado irá mergulhar no mundo das doenças e pragas mais comuns que afetam o limoeiro, fornecendo as ferramentas necessárias para identificar, tratar e, mais importante, prevenir estes problemas, garantindo que a sua árvore permaneça forte, saudável e capaz de produzir colheitas abundantes e de qualidade.

A prevenção é, sem dúvida, a estratégia mais eficaz na gestão de doenças e pragas. Um limoeiro saudável e vigoroso, que recebe a quantidade certa de água, luz solar e nutrientes, é naturalmente mais resistente a ataques. Práticas culturais adequadas são a primeira linha de defesa. Isto inclui garantir uma boa drenagem do solo para evitar o encharcamento das raízes, que é um convite a doenças fúngicas como a gomose. A poda regular para manter a copa arejada, permitindo uma boa circulação de ar e penetração de luz, ajuda a reduzir os níveis de humidade na folhagem, criando um ambiente menos favorável para o desenvolvimento de fungos.

A higiene no jardim é outro aspeto crucial da prevenção. É fundamental remover e destruir folhas caídas, ramos podados e frutos doentes ou mumificados que se encontrem no chão, à volta da base da árvore. Estes detritos podem albergar esporos de fungos e ovos de pragas, que podem reinfectar a árvore na estação seguinte. A limpeza e desinfeção regular das ferramentas de poda, utilizando álcool ou uma solução de lixívia diluída, evita a transmissão de doenças de uma planta para outra. Ao introduzir novas plantas no seu jardim, mantenha-as em quarentena por algumas semanas para garantir que não trazem consigo pragas ou doenças.

A monitorização regular e atenta é a chave para a deteção precoce. Reserve algum tempo, pelo menos uma vez por semana, para inspecionar cuidadosamente o seu limoeiro. Observe a parte superior e inferior das folhas, os ramos, o tronco e os frutos. Procure por insetos, ovos, teias, manchas, descolorações, deformações ou qualquer outra anomalia. Quanto mais cedo identificar um problema, mais fácil e eficaz será o seu controlo, muitas vezes permitindo a utilização de métodos menos tóxicos e mais amigos do ambiente. A identificação correta da praga ou doença é o primeiro passo para a escolha do tratamento adequado.

Promover a biodiversidade no seu jardim pode criar um exército de aliados naturais. Plante flores que atraiam insetos benéficos, como joaninhas, crisopídeos, sirfídeos e vespas parasitoides, que são predadores naturais de muitas pragas comuns, como pulgões e cochonilhas. A presença destes “guardiões” pode manter as populações de pragas sob controlo de forma natural, reduzindo a necessidade de intervenções com pesticidas. A utilização de barreiras físicas, como redes de proteção, pode também ser eficaz para proteger a árvore de pragas maiores, como pássaros ou a mosca-da-fruta.

Principais pragas sugadoras

As pragas sugadoras estão entre os inimigos mais comuns e persistentes do limoeiro. Este grupo inclui pulgões, cochonilhas (tanto a cochonilha-algodão como a cochonilha-lapa) e o aleirodídeo (mosca-branca). Estes insetos alimentam-se inserindo os seus estiletes nos tecidos da planta e sugando a seiva rica em nutrientes. Infestações severas podem enfraquecer a árvore, causar o enrolamento e a deformação de folhas jovens, e levar à queda prematura de flores e frutos. Um sinal secundário da sua presença é o desenvolvimento de fumagina, um fungo de cor preta que cresce sobre as suas secreções açucaradas, a chamada “melada”, cobrindo as folhas e reduzindo a fotossíntese.

Os pulgões são pequenos insetos de corpo mole, geralmente verdes ou pretos, que tendem a aglomerar-se nas pontas dos rebentos novos e na parte inferior das folhas. As cochonilhas-algodão aparecem como pequenas massas brancas e felpudas, enquanto as cochonilhas-lapa se assemelham a pequenas conchas ou escamas acastanhadas firmemente agarradas aos ramos e folhas. Para infestações ligeiras, um forte jato de água pode ser suficiente para desalojar os pulgões. Para um controlo mais eficaz, a aplicação de sabão inseticida ou óleo de neem é recomendada. Estes produtos funcionam por contacto, sufocando os insetos, e são mais seguros para os insetos benéficos do que os pesticidas de largo espetro.

Outra praga sugadora importante é o ácaro-vermelho-dos-citrinos. Estes aracnídeos minúsculos são difíceis de ver a olho nu, mas os seus danos são visíveis como finas teias e um aspeto prateado ou bronzeado nas folhas e frutos, causado pelas suas inúmeras picadas. Os ácaros prosperam em condições quentes e secas. Aumentar a humidade através da pulverização regular da folhagem com água pode ajudar a dissuadir a sua proliferação. Em caso de infestação, a aplicação de um acaricida específico ou de óleo de neem pode ser necessária.

A psila-africana-dos-citrinos é uma praga preocupante, não tanto pelos danos diretos da sua alimentação, mas por ser o vetor da bactéria que causa o “greening” ou HLB, a doença mais devastadora dos citrinos a nível mundial. O inseto causa a formação de galhas e a deformação das folhas jovens. O controlo desta praga é de extrema importância e requer uma vigilância rigorosa e, em muitas regiões, a aplicação de inseticidas específicos sob orientação profissional, para evitar a propagação da doença.

Pragas perfuradoras e desfolhadoras

A lagarta-mineira-dos-citrinos é uma praga muito caraterística e fácil de identificar. A pequena lagarta da traça escava galerias ou “minas” sinuosas no interior das folhas jovens, alimentando-se do tecido foliar. Estas galerias aparecem como trilhos prateados e brilhantes. Embora os danos em árvores maduras sejam maioritariamente estéticos, infestações severas em árvores jovens podem atrasar o seu crescimento. O controlo passa por remover e destruir as folhas afetadas. Como a praga ataca preferencialmente os rebentos novos, evitar a fertilização excessiva com nitrogénio durante os períodos de maior atividade da traça (verão e outono) pode ajudar a reduzir os ataques.

A mosca-da-fruta, em particular a mosca-do-mediterrâneo (Ceratitis capitata), é uma das pragas mais prejudiciais para a produção de frutos. A fêmea perfura a casca do limão para depositar os seus ovos no interior. As larvas que eclodem alimentam-se da polpa, causando o apodrecimento e a queda prematura do fruto. O controlo desta praga é um desafio e geralmente requer uma abordagem integrada. A utilização de armadilhas com atrativos alimentares ou feromonas para capturar os adultos é uma medida de monitorização e controlo eficaz. Ensacar os frutos individualmente quando ainda estão pequenos pode protegê-los, embora seja uma tarefa laboriosa. Em pomares, a aplicação de iscos tóxicos ou tratamentos inseticidas pode ser necessária.

Algumas espécies de lagartas desfolhadoras, como a lagarta-dos-pomares, podem ocasionalmente atacar os limoeiros, consumindo grandes quantidades de folhagem num curto espaço de tempo. Estas lagartas são geralmente grandes e fáceis de detetar. Em pequenas infestações, a remoção manual é o método de controlo mais simples e ecológico. Em casos mais graves, a aplicação de um inseticida biológico à base de Bacillus thuringiensis (Bt) é muito eficaz. Este bioinseticida é específico para lagartas e é seguro para humanos, animais e insetos benéficos.

Os caracóis e as lesmas também podem causar danos, especialmente em árvores jovens, roendo a casca tenra e as folhas. São mais ativos durante a noite e em condições de humidade. A utilização de barreiras físicas, como anéis de cobre à volta do tronco, ou a aplicação de iscos específicos para moluscos pode ajudar a controlar a sua população. Manter a área à volta da árvore limpa e livre de detritos onde se possam esconder durante o dia também ajuda a reduzir a sua presença.

Doenças fúngicas comuns

As doenças fúngicas são uma ameaça constante para os limoeiros, especialmente em condições de elevada humidade e má circulação de ar. A gomose, ou podridão do colo, causada por fungos do género Phytophthora, é uma das mais graves. Ataca o tronco perto da linha do solo, causando lesões escuras na casca, das quais exala uma goma escura e pegajosa. Se não for tratada, a lesão pode circundar o tronco e matar a árvore. A prevenção é a chave: planta a árvore em solo bem drenado, evita que o ponto de enxertia fique enterrado, e evita molhar o tronco durante a rega. O tratamento envolve a remoção cuidadosa da casca doente e a aplicação de uma pasta fúngica protetora.

A antracnose e a verrugose são outras doenças fúngicas que afetam principalmente as folhas, os ramos jovens e os frutos. A antracnose causa manchas escuras e necróticas e pode levar à queda de folhas e à morte de pequenos ramos. A verrugose, como o nome indica, causa lesões salientes e semelhantes a verrugas na casca dos frutos e nas folhas, depreciando o seu valor comercial. O controlo de ambas as doenças passa pela poda sanitária para remover os ramos afetados e pela aplicação de fungicidas à base de cobre, geralmente aplicados de forma preventiva antes dos períodos de chuva na primavera.

O oídio manifesta-se como uma cobertura pulverulenta de cor branca ou cinzenta nas folhas e rebentos jovens. Impede a fotossíntese e pode causar a deformação e a queda das folhas. Esta doença é favorecida por tempo quente e húmido, mas, ao contrário de outros fungos, não necessita de água livre na superfície da folha para germinar. O tratamento pode ser feito com fungicidas à base de enxofre ou com bicarbonato de potássio, aplicados assim que os primeiros sintomas são detetados.

A podridão-parda, também causada por Phytophthora, afeta os frutos, especialmente aqueles que se encontram mais perto do solo. Causa uma mancha acastanhada e firme no fruto, que acaba por cair. Os esporos do fungo são salpicados do solo para os frutos pela chuva. A prevenção envolve a poda dos ramos mais baixos para evitar o contacto dos frutos com o solo e a aplicação de uma cobertura morta (mulch) para reduzir os salpicos. A aplicação de fungicidas de cobre no solo e na saia da árvore antes da estação das chuvas pode também ser eficaz.

Doenças bacterianas e virais

Embora menos comuns em jardins domésticos do que as doenças fúngicas, as doenças bacterianas e virais podem ser extremamente destrutivas. O cancro-cítrico, causado pela bactéria Xanthomonas citri, é uma doença grave que causa lesões necróticas e salientes, com um halo amarelo, nas folhas, ramos e frutos. É altamente contagiosa e dissemina-se pela chuva e pelo vento. Em muitas regiões, é uma doença de quarentena, e a sua deteção obriga à erradicação da árvore. A prevenção, através da compra de plantas certificadas e livres de doenças, é a única medida eficaz.

O “greening” dos citrinos, ou Huanglongbing (HLB), é considerado a doença mais devastadora dos citrinos em todo o mundo. É causada por uma bactéria que é transmitida pela psila-africana-dos-citrinos. A doença afeta todo o sistema vascular da planta, causando o amarelecimento mosqueado e assimétrico das folhas, o definhamento dos ramos, a produção de frutos pequenos, deformados e amargos, e, eventualmente, a morte da árvore. Não existe cura para o HLB. A única estratégia de gestão é o controlo rigoroso do inseto vetor e a remoção e destruição imediata de árvores infetadas para evitar a sua propagação.

O vírus da tristeza dos citrinos (Citrus Tristeza Virus – CTV) é outra doença viral importante. O vírus é transmitido principalmente por pulgões. Os sintomas podem variar muito dependendo da estirpe do vírus e da combinação porta-enxerto/copa. Pode causar um declínio lento ou rápido da árvore, o amarelecimento das folhas, a redução do tamanho dos frutos e, em casos graves, a morte. A utilização de porta-enxertos tolerantes ao vírus e a aquisição de material de propagação certificado e livre de vírus são as principais medidas de controlo.

A exocorte e a xiloporose são outras doenças causadas por viroides, que são agentes patogénicos ainda mais pequenos que os vírus. A exocorte causa o descasque vertical da casca do porta-enxerto, enquanto a xiloporose causa depressões e perfurações na madeira do tronco. Ambas as doenças podem levar ao definhamento e à redução da produtividade da árvore. Tal como acontece com as doenças virais, não há cura, e a prevenção através da utilização de material de propagação certificado é a única forma de controlo.

📷 Pixabay

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