A poda do bordo-japonês é uma prática que combina arte e horticultura, visando não só manter a saúde da árvore, mas também realçar a sua estrutura escultural e a sua beleza natural. Ao contrário de muitas outras árvores e arbustos que requerem uma poda regular e vigorosa, o bordo-japonês beneficia de uma abordagem minimalista e ponderada. O objetivo não é forçar a árvore a uma forma artificial, mas sim trabalhar com o seu hábito de crescimento inato para remover o que é desnecessário e revelar a sua elegância intrínseca. Uma poda bem executada pode melhorar a circulação de ar, prevenir doenças, e criar uma peça central deslumbrante no jardim, enquanto uma poda inadequada pode desfigurar a árvore e comprometer a sua saúde a longo prazo.
O princípio fundamental da poda do bordo-japonês é “menos é mais”. Estas árvores têm uma forma naturalmente graciosa e, na maioria dos casos, requerem muito pouca poda para além da remoção de madeira morta ou danificada. Antes de fazer qualquer corte, é essencial dar um passo atrás e observar a árvore de todos os ângulos. Tenta visualizar a sua estrutura e identificar quais os ramos que contribuem para a sua beleza e quais os que a diminuem, criando confusão ou densidade excessiva. O objetivo é criar uma estrutura aberta, com camadas distintas, que permita que a luz e o ar penetrem no interior da copa.
O momento ideal para realizar a poda estrutural é durante o período de dormência da árvore, do final do outono ao final do inverno. Podar quando a árvore está sem folhas oferece uma visão clara da sua arquitetura de ramos, tornando muito mais fácil tomar decisões informadas sobre quais os ramos a remover. Além disso, a seiva da árvore não está a fluir ativamente nesta altura, o que significa que os cortes não “sangrarão” excessivamente, reduzindo o stress para a planta e o risco de atrair pragas e doenças para a seiva exposta.
Uma poda ligeira pode ser realizada no verão para remover pequenos ramos que estejam a crescer na direção errada ou para refinar a forma da árvore. No entanto, deves evitar fazer cortes grandes durante a estação de crescimento, pois a remoção de uma grande quantidade de folhagem pode enfraquecer a árvore. A única exceção a esta regra é a remoção imediata de ramos mortos, doentes ou partidos, que deve ser feita assim que forem detetados, independentemente da estação, para prevenir a propagação de problemas.
A utilização de ferramentas adequadas é crucial para uma poda bem-sucedida. Para ramos pequenos, um par de tesouras de poda (bypass, não de bigorna) afiadas e limpas é essencial. Para ramos ligeiramente maiores, um podador de cabo longo pode ser necessário, e para ramos mais grossos, um serrote de poda curvo e afiado é a ferramenta de eleição. É imperativo que todas as ferramentas estejam bem afiadas para fazer cortes limpos que cicatrizam rapidamente, e que sejam desinfetadas com álcool ou uma solução de lixívia diluída entre os cortes, especialmente ao remover madeira doente, para evitar a transmissão de patógenos.
Objetivos principais da poda
A poda do bordo-japonês deve ser sempre guiada por objetivos claros e específicos, em vez de ser um corte indiscriminado. O primeiro e mais importante objetivo é a saúde da árvore. Isto envolve a remoção de qualquer madeira que esteja morta, doente ou danificada (os “3 Ds”). Os ramos mortos são um refúgio para pragas e doenças, e a sua remoção é um passo fundamental na manutenção da higiene da planta. Ao remover madeira doente, certifica-te de que cortas bem abaixo da área afetada, em tecido saudável, para garantir que todo o patógeno é removido.
O segundo objetivo é melhorar a estrutura da árvore e prevenir problemas futuros. Isto inclui a remoção de ramos que se cruzam ou roçam uns nos outros. O atrito constante entre estes ramos pode criar feridas na casca, que servem como pontos de entrada ideais para fungos e bactérias. Ao escolher qual dos dois ramos que se cruzam remover, geralmente opta-se por aquele que está em pior posição, é mais fraco ou cresce para o interior da árvore. A remoção de ramos que crescem para dentro, em direção ao tronco, também é importante para manter uma estrutura aberta.
Um terceiro objetivo é gerir a densidade da copa. Uma copa demasiado densa pode restringir a circulação de ar e a penetração da luz, criando um ambiente húmido e sombrio no interior da árvore que é propício ao desenvolvimento de doenças fúngicas. A poda de desbaste seletivo, que envolve a remoção de alguns ramos até ao seu ponto de origem no tronco ou num ramo principal, pode abrir a copa. Este tipo de poda ajuda a realçar a beleza dos ramos principais e a criar uma aparência mais arejada e em camadas.
Finalmente, a poda pode ser usada para controlar o tamanho e a forma da árvore, embora isto deva ser feito com moderação. Se a árvore está a crescer demasiado para o seu espaço, é melhor reduzir seletivamente o comprimento de alguns ramos mais longos do que fazer um corte de topo indiscriminado. Ao encurtar um ramo, corta sempre logo acima de um ramo lateral ou de um botão virado para fora, na direção em que desejas que o novo crescimento ocorra. Esta técnica ajuda a manter uma aparência natural.
Técnicas de corte corretas
A forma como se faz um corte de poda é tão importante quanto a decisão de onde cortar. Um corte mal feito pode danificar a árvore e levar a uma cicatrização lenta ou inadequada. A regra de ouro é nunca cortar à face do tronco ou do ramo principal de onde o ramo que estás a remover se origina. Deves sempre localizar o “colar do ramo”, que é a área ligeiramente inchada na base do ramo onde este se junta ao tronco. Esta área contém tecidos especializados que promovem uma cicatrização rápida.
O corte de poda deve ser feito do lado de fora do colar do ramo, em ângulo, de forma a que a superfície do corte seja a menor possível. Cortar dentro do colar do ramo danifica os tecidos do tronco, cria uma ferida maior e dificulta a cicatrização. Por outro lado, deixar um toco demasiado longo (um “cabide”) também é prejudicial, pois este toco irá morrer e apodrecer, proporcionando um ponto de entrada para pragas e doenças que podem depois espalhar-se para o resto da árvore.
Para remover ramos maiores e mais pesados, é crucial usar a técnica de três cortes para evitar que o peso do ramo rasgue a casca do tronco ao cair. O primeiro corte é um corte inferior, feito a cerca de 15-30 cm do tronco, cortando cerca de um terço do diâmetro do ramo. O segundo corte é feito por cima, um pouco mais afastado do tronco do que o primeiro corte, cortando o resto do ramo. O peso do ramo fará com que ele se parta limpiamente entre os dois cortes. Finalmente, faz-se o terceiro corte, removendo o toco restante no local correto, logo a seguir ao colar do ramo.
Após a poda, geralmente não é necessário aplicar qualquer tipo de selante ou tinta de poda nas feridas. Estudos demonstraram que as árvores são mais eficientes a compartimentar e a cicatrizar as suas próprias feridas naturalmente. A aplicação de selantes pode, na verdade, reter a humidade e criar um ambiente favorável ao apodrecimento e ao crescimento de fungos. A exceção pode ser em áreas onde doenças específicas, como a doença do carvalho, são prevalentes, mas para os bordos-japoneses, é melhor deixar os cortes expostos ao ar.
Poda de diferentes formas de crescimento
Os bordos-japoneses apresentam uma grande diversidade de hábitos de crescimento, e a abordagem da poda deve ser adaptada à forma natural da variedade. As variedades verticais, como ‘Bloodgood’ ou ‘Emperor I’, tendem a formar uma estrutura de árvore pequena e arredondada. A poda para estas variedades foca-se em estabelecer um tronco principal forte quando jovens e, mais tarde, em manter uma copa aberta e equilibrada, removendo ramos que se cruzam e desbastando áreas demasiado densas. O objetivo é criar um “esqueleto” de ramos bem espaçados.
As variedades em cascata ou pendentes, como ‘Crimson Queen’ ou ‘Viridis’, têm um hábito de crescimento chorão e em forma de cogumelo. A poda para estas variedades é focada em realçar o seu efeito de cascata. Isto envolve a remoção de quaisquer ramos que cresçam para cima ou na vertical (a menos que se pretenda aumentar a altura) e o desbaste dos ramos pendentes para evitar que se tornem uma massa densa e emaranhada. A poda por baixo, para levantar a “saia” da árvore e revelar a estrutura do tronco e dos ramos principais, pode criar um efeito visual muito dramático.
As variedades anãs ou arbustivas, como as do grupo ‘Mikawa yatsubusa’, são naturalmente compactas e densas. A poda nestas variedades é geralmente mínima e foca-se principalmente na remoção de madeira morta. Qualquer poda de modelação deve ser muito subtil, visando apenas aprimorar a sua forma natural de tufo ou de bonsai. Uma poda excessiva pode destruir o seu caráter compacto e único.
É importante também considerar a poda de raízes, especialmente para plantas cultivadas em vasos por muitos anos. A cada dois a três anos, quando se faz o transplante para um vaso ligeiramente maior, é uma boa prática podar cerca de um quarto a um terço da massa radicular exterior. Isto estimula o crescimento de novas raízes alimentadoras e evita que a planta fique com o sistema radicular compactado e a circular no vaso. A poda de raízes deve ser acompanhada por uma poda correspondente na copa para manter o equilíbrio entre a parte superior e inferior da planta.
Erros comuns a evitar na poda
Existem vários erros comuns que os jardineiros cometem ao podar bordos-japoneses, os quais podem ter consequências negativas a longo prazo. Um dos erros mais graves é a poda de topo, que consiste em cortar indiscriminadamente os topos dos ramos para reduzir a altura da árvore. Este método destrói a forma natural da árvore, deixa feridas grandes e feias que cicatrizam mal, e estimula o crescimento de múltiplos rebentos fracos e verticais a partir dos pontos de corte, resultando numa aparência de “vassoura de bruxa”.
Outro erro comum é a poda excessiva, ou seja, remover demasiada folhagem de uma só vez. Nunca se deve remover mais de um quarto do volume total da copa numa única sessão de poda. A remoção de uma grande percentagem das folhas reduz a capacidade da árvore de fazer fotossíntese, o que pode enfraquecê-la severamente e torná-la mais suscetível a stresses ambientais, pragas e doenças. A poda deve ser um processo gradual, realizado ao longo de vários anos, se forem necessárias alterações significativas na estrutura.
Ignorar a necessidade de desinfetar as ferramentas de poda é um erro que pode ter consequências desastrosas. Mover-se de uma planta para outra, ou mesmo de um ramo doente para um saudável na mesma planta, com ferramentas contaminadas é uma forma segura de espalhar doenças por todo o jardim. Leva apenas alguns segundos para limpar as lâminas com álcool, e este simples passo pode salvar as tuas plantas de infeções graves.
Finalmente, um erro conceptual é tentar forçar um bordo-japonês a adotar uma forma que não é natural para a sua variedade. Tentar fazer com que uma variedade pendente cresça na vertical ou que uma variedade vertical tenha um aspeto de cascata irá resultar numa batalha constante e numa planta com um aspeto stressado e artificial. O segredo para um bordo-japonês lindamente podado é escolher a variedade certa para o local e para o efeito desejado desde o início, e depois usar a poda apenas para aprimorar e refinar a beleza que já lá está.