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Plantação e propagação do marmeleiro

Daria · 13.08.2025.

A plantação e a propagação do marmeleiro são processos fundamentais que definem o sucesso futuro de um pomar ou de um exemplar isolado no jardim. A escolha de um método de propagação adequado e a execução correta da plantação são os primeiros passos para garantir o estabelecimento de uma árvore saudável, vigorosa e produtiva. O marmeleiro, embora seja uma árvore relativamente rústica, beneficia enormemente de um início de vida bem planeado, desde a seleção do material vegetal até à preparação cuidadosa do solo. Compreender as diferentes técnicas de propagação e os requisitos para uma plantação bem-sucedida permite ao agricultor e ao jardineiro amador multiplicar os seus exemplares e assegurar uma base sólida para o seu desenvolvimento a longo prazo.

O processo de plantação é mais do que simplesmente colocar uma planta no solo; é a criação de um ambiente ideal para que as suas raízes se desenvolvam e sustentem a árvore durante toda a sua vida. A seleção de uma localização com exposição solar adequada e um solo com boa drenagem é um pré-requisito indispensável para o sucesso. A preparação meticulosa do buraco de plantação, garantindo que seja suficientemente largo e profundo para acomodar o sistema radicular sem o dobrar, é igualmente crucial. A incorporação de matéria orgânica no solo de enchimento fornecerá nutrientes essenciais e melhorará a estrutura do solo, facilitando o crescimento inicial das raízes.

A propagação do marmeleiro pode ser realizada através de vários métodos, cada um com as suas vantagens e desvantagens. A propagação por semente é possível, mas não garante que as características da planta-mãe sejam mantidas, sendo um método mais utilizado para a obtenção de porta-enxertos. Os métodos de propagação vegetativa, como a estacaria, a mergulhia e a enxertia, são os mais comuns para a produção de árvores frutíferas, pois asseguram a manutenção das características genéticas da variedade desejada, como o tamanho, o sabor e o aroma dos frutos. A escolha do método dependerá dos recursos disponíveis e do objetivo do produtor.

Após a plantação, os cuidados iniciais são determinantes para a sobrevivência e o bom estabelecimento da jovem árvore. A rega regular é essencial para manter o solo húmido, mas não encharcado, permitindo que as raízes se expandam e explorem o novo ambiente. A aplicação de uma camada de mulching (cobertura morta) à volta da base da planta ajuda a conservar a humidade, a controlar o crescimento de ervas daninhas e a proteger o jovem sistema radicular. A monitorização da planta para detetar sinais de stress, pragas ou doenças permite uma intervenção precoce, aumentando significativamente as suas hipóteses de se tornar uma árvore forte e produtiva.

Escolha da variedade e do local

Antes de iniciar o processo de plantação, a seleção da variedade de marmeleiro é um passo de grande importância. Existem diversas variedades, cada uma com características distintas em termos de tamanho do fruto, época de maturação, sabor e aptidão para diferentes usos culinários. Algumas variedades são mais adequadas para a produção de marmelada, enquanto outras são excelentes para assar. Além disso, é importante considerar a resistência da variedade a doenças comuns na região e a sua adaptação às condições climáticas locais. A escolha de uma variedade bem adaptada ao clima e ao solo da região aumentará significativamente as probabilidades de sucesso do cultivo.

A seleção do local de plantação é igualmente crítica e deve ser feita com ponderação. O marmeleiro é uma árvore que exige plena exposição solar para um desenvolvimento ótimo e uma frutificação abundante. Um local que receba pelo menos seis a oito horas de luz solar direta por dia é ideal. A luz solar não só é fundamental para a fotossíntese, mas também ajuda a prevenir doenças fúngicas, ao permitir que a folhagem seque rapidamente. Deve-se também evitar locais baixos e sujeitos a geadas tardias na primavera, que podem danificar as flores e comprometer a produção de frutos.

O solo desempenha um papel vital no estabelecimento e crescimento do marmeleiro. A árvore prefere solos profundos, férteis e, acima de tudo, bem drenados. Solos pesados e argilosos que tendem a ficar encharcados são problemáticos, pois podem levar à asfixia e apodrecimento das raízes. Antes de plantar, é aconselhável avaliar a drenagem do local, cavando um buraco e enchendo-o com água. Se a água demorar muitas horas a escoar, será necessário melhorar a drenagem do solo, por exemplo, através da criação de um canteiro elevado ou da incorporação de areia e matéria orgânica para melhorar a sua estrutura.

O planeamento do espaçamento entre as árvores é um aspeto muitas vezes subestimado, mas crucial para a saúde a longo prazo do pomar. Os marmeleiros necessitam de espaço suficiente para que as suas copas se desenvolvam plenamente sem competirem por luz e recursos. Um espaçamento adequado, geralmente entre 4 a 5 metros entre plantas, garante uma boa circulação de ar, o que é fundamental para reduzir a incidência de doenças. Além disso, facilita as operações culturais como a poda, a colheita e a aplicação de tratamentos fitossanitários.

Propagação por estaca

A propagação por estaca é um dos métodos vegetativos mais populares e eficazes para multiplicar o marmeleiro, permitindo obter novas plantas geneticamente idênticas à planta-mãe. Este método pode ser realizado utilizando estacas lenhosas ou semi-lenhosas. As estacas lenhosas são colhidas durante o período de dormência da árvore, no inverno, a partir de ramos saudáveis e vigorosos do ano anterior. As estacas devem ter cerca de 20 a 30 centímetros de comprimento e a espessura de um lápis. O corte na base da estaca deve ser feito em bisel, logo abaixo de um gomo, para aumentar a área de enraizamento.

Uma vez colhidas, as estacas devem ser preparadas para o enraizamento. É prática comum mergulhar a base das estacas numa hormona de enraizamento em pó ou líquida para estimular e acelerar a formação de raízes. Este passo, embora não seja estritamente obrigatório, aumenta significativamente a taxa de sucesso. As estacas são depois inseridas num substrato leve e bem drenado, como uma mistura de turfa e areia ou perlite. Cerca de dois terços do comprimento da estaca devem ser enterrados no substrato, garantindo que pelo menos dois a três gomos fiquem acima da superfície.

O ambiente em que as estacas são colocadas é crucial para o sucesso do enraizamento. Elas necessitam de um ambiente protegido, com humidade elevada e temperatura amena. Uma estufa fria, um túnel baixo ou mesmo um local abrigado no exterior coberto com plástico transparente pode fornecer as condições ideais. O substrato deve ser mantido consistentemente húmido, mas não encharcado, para evitar o apodrecimento das estacas. O processo de enraizamento pode levar vários meses, e a paciência é fundamental. O aparecimento de novos rebentos é um bom indicador de que o enraizamento começou.

Após o enraizamento, as novas plantas precisam de um período de aclimatação antes de serem transplantadas para o seu local definitivo. No final da primavera ou início do verão, quando as estacas já desenvolveram um sistema radicular robusto e nova folhagem, podem ser cuidadosamente transplantadas para vasos individuais maiores. Devem ser mantidas num local protegido durante mais algum tempo, sendo gradualmente expostas a mais luz solar direta. No outono seguinte ou na primavera do ano posterior, quando estiverem suficientemente fortes e bem estabelecidas, podem ser finalmente plantadas no pomar ou jardim.

Propagação por enxertia

A enxertia é uma técnica de propagação amplamente utilizada na fruticultura profissional para garantir a produção de árvores com características desejáveis e uniformes. Este método consiste em unir uma parte de uma planta (o enxerto), que contém os gomos da variedade que se deseja propagar, a outra planta (o porta-enxerto ou cavalo), que fornecerá o sistema radicular. Para o marmeleiro, os porta-enxertos mais comuns são obtidos a partir de sementes da própria espécie (Cydonia oblonga) ou de variedades específicas selecionadas pela sua resistência a doenças do solo ou pela sua capacidade de controlar o vigor da árvore.

Existem vários métodos de enxertia que podem ser aplicados ao marmeleiro, sendo a enxertia de fenda e a enxertia de borbulha as mais comuns. A enxertia de fenda é geralmente realizada no final do inverno, quando o porta-enxerto ainda está em dormência. Consiste em cortar o topo do porta-enxerto e fazer uma fenda onde se inserem um ou dois pequenos ramos (garfos) da variedade desejada. A enxertia de borbulha, por outro lado, é feita no final do verão, utilizando apenas um único gomo (borbulha) com um pequeno pedaço de casca, que é inserido sob a casca do porta-enxerto.

O sucesso da enxertia depende criticamente do contacto cambial. O câmbio é uma fina camada de tecido vivo localizada entre a casca e a madeira, responsável pelo crescimento em diâmetro. Para que a união seja bem-sucedida, as camadas cambiais do enxerto e do porta-enxerto devem estar perfeitamente alinhadas e em contacto direto. Após a união, a zona do enxerto é firmemente atada com fita de enxertia e, em alguns casos, coberta com uma massa protetora para evitar a desidratação e a entrada de agentes patogénicos.

A enxertia oferece vantagens significativas em relação a outros métodos de propagação. Permite combinar as melhores características de duas plantas diferentes: a qualidade dos frutos da variedade do enxerto com a rusticidade e adaptação ao solo do porta-enxerto. Além disso, a utilização de porta-enxertos ananicantes permite produzir árvores de menor porte, o que facilita a colheita e a manutenção. Esta técnica, embora exija mais habilidade e precisão do que a estacaria, é fundamental para a produção comercial e para a preservação de variedades antigas e raras de marmeleiro.

O processo de plantação passo a passo

O momento ideal para a plantação do marmeleiro é durante o período de dormência, desde o final do outono até ao início da primavera, quando a árvore não tem folhas. Plantar nesta altura permite que o sistema radicular comece a estabelecer-se antes do início do crescimento vigoroso da primavera. Deve-se evitar plantar em dias de geada ou quando o solo está encharcado. Para árvores de raiz nua, a plantação deve ser feita o mais rapidamente possível após a sua aquisição para evitar que as raízes sequem. Se a plantação imediata não for possível, as raízes devem ser mantidas húmidas, cobertas com terra ou serradura húmida.

A preparação do buraco de plantação é um passo crucial. O buraco deve ser significativamente mais largo do que o sistema radicular da árvore, idealmente duas a três vezes a sua largura, e com a mesma profundidade do torrão ou das raízes. Isto permite que as raízes se expandam lateralmente em solo solto, facilitando o seu crescimento. É importante não cavar um buraco excessivamente fundo, pois isso pode fazer com que a árvore se afunde com o tempo, deixando o colo da planta (a zona de transição entre o tronco e as raízes) abaixo do nível do solo, o que pode levar a problemas de apodrecimento.

Ao colocar a árvore no buraco, é essencial posicioná-la corretamente. A marca do solo anterior no tronco deve ficar ao nível do solo circundante. No caso de árvores enxertadas, o ponto de enxertia deve permanecer sempre bem acima do nível do solo, tipicamente a 10-15 cm de altura, para evitar que o enxerto emita as suas próprias raízes. As raízes devem ser espalhadas cuidadosamente no buraco, evitando que fiquem dobradas ou enroladas. O buraco é então preenchido com a terra que foi retirada, misturada com composto ou outra matéria orgânica, calcando-a ligeiramente para eliminar bolsas de ar.

Após o preenchimento do buraco, é fundamental realizar uma rega abundante, mesmo que o solo esteja húmido. Esta primeira rega ajuda a assentar o solo à volta das raízes, eliminando as restantes bolsas de ar e garantindo um bom contacto entre as raízes e a terra. A construção de uma pequena bacia de rega (caldeira) à volta do tronco ajuda a reter a água e a direcioná-la para a zona radicular. Finalmente, a aplicação de uma estaca (tutor) pode ser necessária para dar suporte à jovem árvore nos seus primeiros anos, protegendo-a de ventos fortes e garantindo um crescimento direito.

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