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Cultivo e propagação do gladíolo-abissínio

Daria · 26.04.2025.

O gladíolo-abissínio, de nome científico Gladiolus murielae, é verdadeiramente uma planta muito especial e elegante, originária das regiões montanhosas do sudeste de África, especialmente da Etiópia (anteriormente Abissínia), de onde também deriva o seu nome comum. A sua aparência é extremamente atraente; em hastes longas e finas, ostenta flores graciosamente curvadas, de cor branco-neve, cujo centro é adornado por uma mancha vermelho-escura em forma de estrela, criando um contraste dramático com a pureza das pétalas. Estas flores cativam não só pela sua aparência, mas também pelo seu aroma agradável e adocicado, especialmente durante as horas вечерas, encantando os amantes de jardins. A planta revela todo o seu esplendor no final do verão e início do outono, quando muitas outras flores de jardim já terminaram a floração, tornando-se um valioso toque de cor no jardim de final de estação.

As folhas são longas, estreitas e de aspeto herbáceo, de cor verde-clara, o que também contribui para a aparência etérea e elegante da planta. A altura atinge geralmente os 60-90 centímetros, sendo por isso também excelente como flor de corte, mantendo a sua frescura e valor decorativo por muito tempo em arranjos. É importante notar que, embora pertença à família dos gladíolos, apresenta algumas diferenças na aparência e nos requisitos em comparação com os gladíolos híbridos mais conhecidos e de flores grandes, representando uma espécie de encanto mais fino e natural. Do ponto de vista botânico, é uma planta herbácea perene com cormos (bolbos sólidos), o que significa que, todos os anos, brota novamente a partir do seu órgão de armazenamento subterrâneo, o cormo, desde que sejam asseguradas as condições adequadas.

Apresentação e características botânicas do gladíolo-abissínio

O gladíolo-abissínio, também conhecido como gladíolo-perfumado ou acidantera, é uma planta herbácea perene com cormos da família Iridaceae, cujo habitat original é a África Oriental, principalmente as áreas relvadas de maior altitude da Etiópia e do Malawi. Esta origem também determina algumas das suas necessidades, como a preferência por solo bem drenado e uma localização soalheira. Botanicamente, é classificado no género Gladiolus, embora anteriormente também fosse conhecido como um género separado, Acidanthera, de onde deriva um dos seus nomes comuns. Os cormos da planta são relativamente pequenos, globosos, com um invólucro fibroso, e a partir deles, na primavera, crescem folhas longas, estreitas, em forma de espada, de cor verde-viva, que constituem a base da folhagem da planta.

A floração ocorre geralmente na segunda metade do verão, em agosto e setembro, quando outras plantas de jardim começam a murchar, proporcionando assim uma visão refrescante no jardim. As flores estão dispostas em inflorescências racemosas laxas numa haste floral longa e fina que pode atingir até 60-100 cm de altura, e numa haste podem geralmente desenvolver-se 5-10 flores. As próprias flores são afuniladas, compostas por seis pétalas branco-neve, elegantemente curvadas, em cujo centro se encontra uma mancha proeminente, castanho-avermelhada ou vermelho-escura, em forma de estrela, que confere à flor um carácter único. Esta coloração contrastante e o aroma fino e adocicado das flores, reminiscente do jasmim, tornam esta planta verdadeiramente especial e atraente, sendo o aroma particularmente intenso durante as horas вечерas.

As características morfológicas do gladíolo-abissínio incluem também uma haste floral relativamente fina mas forte que, embora esguia, geralmente suporta bem as flores, mas em locais ventosos pode ser útil fornecer-lhe apoio. As folhas são tipicamente semelhantes às de gramíneas, estreitas e longas, direcionadas verticalmente para cima, pelo que o hábito da planta é etéreo e elegante. O cormo renova-se todos os anos; acima do cormo-mãe desenvolve-se um novo cormo, maior, enquanto a parte inferior, esgotada, morre, e na base do novo cormo podem também formar-se pequenos cormilhos laterais, que podem servir de base para a propagação.

É importante mencionar que, embora a planta seja perene, os seus cormos são sensíveis à geada no nosso clima e, portanto, a sua invernação deve ser assegurada, à semelhança de outras espécies de gladíolos que não são resistentes ao inverno. Isto significa que, no outono, antes das primeiras geadas, os cormos devem ser desenterrados e armazenados num local protegido da geada e arejado até à plantação na primavera seguinte. Com os devidos cuidados e invernação, pode-se desfrutar ano após ano da floração desta planta de beleza e aroma excepcionais, que pode ser uma verdadeira joia em qualquer canteiro de flores ou mesmo em plantações em vasos.

Seleção do local ideal de plantio e preparação do solo

Um dos elementos chave para o cultivo bem-sucedido do gladíolo-abissínio é a seleção cuidadosa de um local de plantio adequado. Esta planta é marcadamente heliófila, pelo que se deve procurar um local no jardim onde receba pelo menos seis a oito horas de luz solar direta diariamente. Locais sombrios ou semissombrios prejudicam a floração, as hastes podem tornar-se delgadas e o número de flores pode diminuir, podendo até a intensidade do aroma diminuir. Canteiros virados a sul ou sudoeste podem ser ideais, onde a planta recebe abundantemente o calor e a luz do sol, o que é necessário para o desenvolvimento adequado dos cormos e uma produção abundante de flores.

A qualidade do solo é também um fator decisivo para o gladíolo-abissínio. O ideal é um solo bem drenado, com estrutura solta e rico em nutrientes. A água estagnada é extremamente prejudicial para os cormos e pode facilmente causar apodrecimento, pelo que se devem evitar solos baixos, argilosos e compactos. Se o solo do jardim for mais pesado, a sua estrutura deve ser absolutamente melhorada através da adição de areia, cascalho fino ou composto curado para garantir a rápida drenagem do excesso de água. Quanto ao pH do solo, o neutro ou ligeiramente ácido (pH 6,0-7,0) é o mais favorável.

Na preparação do solo antes do plantio, recomenda-se lavrar a área selecionada a uma profundidade de pelo menos 25-30 cm para que as raízes se possam espalhar facilmente e os cormos se desenvolvam corretamente. Esta é também uma oportunidade para melhorar o teor de nutrientes do solo. Incorpore estrume de curral curado ou composto no solo, o que a longo prazo assegura os nutrientes necessários e melhora a estrutura do solo e a capacidade de retenção de água sem causar encharcamento. Deve-se evitar o uso de estrume fresco, pois pode danificar os cormos.

A proteção contra o vento também pode ser um aspeto importante, especialmente se se cultivarem exemplares mais altos. Embora as hastes do gladíolo-abissínio sejam relativamente fortes, uma rajada de vento mais forte pode danificá-las e as flores podem quebrar-se. Um canto mais protegido mas soalheiro pode ser uma escolha ideal ou, se necessário, deve-se providenciar um apoio discreto para as plantas. O local certo e uma preparação cuidadosa do solo estabelecem a base para o desenvolvimento saudável da planta e uma floração abundante, pelo que se deve dedicar atenção suficiente a estes passos.

Processo de plantio e escolha da época de plantio

A época mais adequada para o plantio dos cormos de gladíolo-abissínio é a primavera, quando o perigo de geadas tardias já passou e a temperatura do solo subiu de forma consistente acima dos 10-12 °C. Em Portugal, isto corresponde geralmente ao período entre o final de abril e meados de maio, mas é aconselhável acompanhar as previsões meteorológicas atuais. Um plantio demasiado precoce pode causar danos por geada nas plantas emergentes, enquanto um plantio demasiado tardio pode atrasar a floração ou mesmo resultar na sua ausência total na estação corrente. Ao escolher a época ideal, garante-se que a planta tem tempo suficiente para desenvolver o sistema radicular e a folhagem antes da floração no final do verão.

A profundidade de plantio é crucial para um crescimento estável e uma floração adequada. Como regra geral, os cormos devem ser plantados a uma profundidade correspondente a duas a três vezes o seu tamanho, o que geralmente significa uma profundidade de 8-12 cm. Em solos mais leves e arenosos, pode-se plantar um pouco mais fundo, enquanto em solos mais pesados se planta mais à superfície. Quanto ao espaçamento de plantio, deve-se deixar pelo menos 10-15 cm de espaço entre os cormos individuais para que as plantas adultas tenham espaço suficiente para crescer e para que o ar possa circular adequadamente entre elas, prevenindo assim possíveis doenças fúngicas.

Durante o plantio, os cormos devem ser colocados na cova de plantio preparada com o ápice virado para cima. Depois de colocados, devem ser cuidadosamente cobertos com terra e, em seguida, a terra à sua volta deve ser ligeiramente pressionada para garantir um bom contacto com o solo. Após o plantio, a área deve ser regada abundantemente para promover o enraizamento. Se se plantar o gladíolo-abissínio em grupos maiores, obtém-se um efeito muito mais impressionante do que se forem plantados individualmente no jardim; um grupo de 5-7 cormos já forma uma bela mancha.

Também é possível forçar os cormos se se desejar uma floração mais precoce. Para este fim, os cormos podem ser plantados em vasos em março e mantidos num local luminoso e protegido da geada (por exemplo, numa estufa, jardim de inverno ou num parapeito de janela soalheiro) até ao transplante. Quando o perigo de geada tiver passado, as plantas pré-germinadas podem ser cuidadosamente, juntamente com o torrão de terra, transplantadas para o exterior. Este método pode ser particularmente útil em regiões com climas mais frios, onde a estação de crescimento é mais curta.

Cuidados com o gladíolo-abissínio durante a estação de crescimento

Os cuidados com o gladíolo-abissínio durante a estação de crescimento não exigem tarefas excessivamente complicadas, mas há alguns aspetos básicos a que se deve prestar atenção para uma floração abundante e um crescimento saudável. Uma das tarefas mais importantes é a rega regular mas moderada, especialmente durante os períodos mais secos e quentes. O solo deve ser mantido moderadamente húmido, mas deve-se evitar a rega excessiva e a água estagnada, pois isso pode levar ao apodrecimento dos cormos. À medida que o período de floração se aproxima, bem como durante a própria floração, a necessidade de água da planta aumenta um pouco, devendo-se então prestar mais atenção a um fornecimento adequado de água.

O fornecimento de nutrientes também desempenha um papel importante na qualidade e quantidade das flores. Se o solo foi bem preparado com matéria orgânica no momento do plantio, será necessária menos fertilização adicional durante a estação. No entanto, se o solo for menos fértil ou se a planta for cultivada em vaso, recomenda-se regar com um fertilizante líquido complexo que promova a floração a cada 2-3 semanas durante o período de crescimento. Deve-se evitar a aplicação excessiva de azoto, pois isso pode levar a um crescimento excessivo da folhagem em detrimento da floração. Preparações mais ricas em potássio e fósforo são mais benéficas.

A remoção regular de ervas daninhas é essencial, pois estas competem com o gladíolo por água, nutrientes e luz. Ao remover as ervas daninhas, deve-se proceder com cuidado para não danificar os cormos superficialmente localizados ou os rebentos jovens. A cobertura do solo (mulching) com, por exemplo, casca de pinheiro, composto ou palha, pode ajudar a controlar as ervas daninhas, a conservar a humidade do solo e a estabilizar a temperatura do solo, o que pode ser particularmente útil durante o calor do verão.

Embora as hastes do gladíolo-abissínio sejam geralmente bastante fortes, os exemplares mais altos, especialmente em locais ventosos ou se produzirem muitas flores, podem necessitar de apoio. Uma fina estaca de bambu ou um discreto tutor de plantas podem ajudar a evitar que as hastes tombem ou se quebrem. As flores murchas devem ser removidas regularmente (desbaste), o que não é importante apenas do ponto de vista estético, mas também porque impede a formação de sementes, permitindo que a planta direcione a sua energia para o desenvolvimento de novas flores e o fortalecimento do cormo.

Métodos de propagação do gladíolo-abissínio

A propagação do gladíolo-abissínio pode ser feita fundamentalmente de duas maneiras: vegetativamente, pela separação de cormilhos laterais, e generativamente, por sementeira. O método mais comum e também o mais simples é a propagação por cormilhos, pois garante que as novas plantas sejam geneticamente idênticas à planta-mãe, conservando assim todas as suas características favoráveis, incluindo a cor da flor e o aroma. Estes pequenos cormilhos formam-se na base do cormo-mãe, ou seja, na parte basal do novo cormo em desenvolvimento, no final da estação de crescimento.

Para a propagação por cormilhos, é necessário separar cuidadosamente estas pequenas formações, muitas vezes do tamanho de um grão de arroz ou um pouco maiores, dos cormos desenterrados e limpos no outono. A separação pode ser feita imediatamente após o desenterramento, durante a limpeza, ou mesmo na primavera, antes do plantio. É importante usar apenas os cormilhos que estejam saudáveis, intactos e firmes. Estes pequenos cormilhos podem ser plantados na primavera seguinte, de forma semelhante aos cormos-mãe, mas um pouco mais superficialmente (a cerca de 3-5 cm de profundidade) e mais densamente num canteiro bem preparado ou mesmo num vaso, num local de cultivo separado.

As plantas cultivadas a partir de cormilhos geralmente não florescem no primeiro ano; dependendo do seu tamanho, podem levar de 1 a 3 anos para atingir um tamanho capaz de florir. No primeiro ano, geralmente desenvolvem apenas folhas e o seu cormo cresce. É importante que, mesmo durante este período, lhes sejam fornecidos os cuidados adequados: rega regular, remoção de ervas daninhas e, se necessário, suplementação de nutrientes. Os cormos jovens cultivados desta forma devem ser desenterrados e invernados no outono da mesma forma que os exemplares adultos, até atingirem um tamanho em que se possa esperar a floração.

A propagação por semente é um processo mais demorado e que exige mais paciência, e os descendentes obtidos desta forma podem não conservar necessariamente todas as características da planta-mãe, especialmente se houve possibilidade de hibridação. As sementes podem ser colhidas das cápsulas que se formam após as flores murchas, depois de secarem. A sementeira é feita na primavera, num substrato de sementeira solto e bem drenado, cobrindo as sementes levemente. A germinação pode levar várias semanas, e as plântulas jovens são muito pequenas e sensíveis. As plantas cultivadas a partir de semente geralmente precisam de 3 a 5 anos para desenvolver um cormo capaz de florir, pelo que este método é usado principalmente por jardineiros com gosto pela experimentação ou por melhoradores de plantas.

Invernação dos cormos e garantia da floração no ano seguinte

O gladíolo-abissínio não é resistente ao inverno nas nossas condições climáticas, pelo que os seus cormos devem ser desenterrados todos os outonos, antes da ocorrência das primeiras geadas mais fortes. Isto é geralmente relevante no final de outubro ou início de novembro, mas é aconselhável acompanhar a evolução das condições meteorológicas e o estado da planta. O amarelecimento e a secagem das folhas sinalizam que a planta completou o seu ciclo vegetativo e que o cormo entrou em dormência. Para o desenterramento, deve-se afofar cuidadosamente o solo à volta da planta com um garfo de cavar, tendo o cuidado de não danificar os cormos.

Os restos de terra devem ser cuidadosamente removidos dos cormos desenterrados, mas estes não devem ser lavados, pois a humidade pode causar apodrecimento durante o armazenamento. A haste e as folhas devem ser cortadas, deixando um coto de aproximadamente 5-10 cm. Subsequentemente, os cormos devem ser secos e “curados” durante algumas semanas num local bem ventilado, quente e seco (por exemplo, num barracão, garagem, ou mesmo num tabuleiro coberto com jornal numa divisão menos aquecida da casa). Este processo, conhecido como cura, ajuda na cicatrização de feridas e no fortalecimento das túnicas exteriores, o que reduz o risco de doenças durante o armazenamento.

Após a secagem, devem ser removidos dos cormos os restos de haste completamente secos, as raízes velhas e mortas e os restos do cormo velho do ano anterior, que geralmente se encontra por baixo do novo cormo maior. Esta é também uma oportunidade para separar os cormilhos anteriormente mencionados, que podem ser armazenados separadamente e cultivados posteriormente. Os cormos limpos e saudáveis devem então ser armazenados num local protegido da geada, fresco (idealmente entre 5-10 °C), escuro e bem ventilado até ao plantio na primavera. Uma cave, uma garagem não aquecida ou uma despensa podem ser adequadas para este fim.

Para o armazenamento, podem ser usados sacos de papel, caixas de cartão ou sacos de rede, ou eventualmente caixotes, que são enchidos frouxamente com turfa seca, serradura, vermiculite ou areia, para que os cormos não entrem em contacto uns com os outros e para garantir uma circulação de ar adequada. Ocasionalmente, uma vez por mês, recomenda-se verificar os cormos armazenados e remover quaisquer exemplares possivelmente mofados ou amolecidos para evitar a propagação adicional da infeção. Uma invernação cuidadosa garante que, na primavera seguinte, se possam plantar cormos saudáveis e vigorosos que nos irão deliciar novamente com as suas maravilhosas flores.

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